Edmar Oliveira é psiquiatra, blogueiro, escritor.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Nesses tempos de pandemia fui atípico. Com mais três escritores organizamos um livro coletivo de contos sobre a pandemia que está no prelo da editora Patuá. Deverá ser lançado em um mês. Organizava a escrita assim: pela ordem lia os três contos dos companheiros de escrita e elaborava o meu. Algumas exceções aconteceram, quando fazia o conto antes, por vir a inspiração de escrevê-lo, de ler os contos dos parceiros. Foi uma experiência interessante. Retomei um projeto antigo em que escrevi cartas de baralho para lê-las aleatoriamente e uma amiga designer está bolando a possibilidade de acontecer o livro. Ultimamente estou paralisado, preocupado demais com a situação política do país e essa ansiedade tem me deixado improdutivo nos últimos meses.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Nos meus livros as duas coisas aconteceram. Em alguns, a história era ruminada em minhas caminhadas, adiando a escrita para quando o livro tivesse pronto. Noutros deixei fluir e em ambas as formas alguns personagens ganharam vida e não pude programar sua participação. Em um livro (Não existe pretérito perfeito) apesar de ter ruminado por muito tempo os acontecimentos, um personagem ganhou vida e ficou muito maior do que imaginei.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Não, quando escrevo fico surdo ao entorno. É preciso ser muito forte o estímulo para me tirar da escrita que vai ganhando um cenário imaginado ou surpreendente, conforme sja uma escrita de ruminação ou da que surge durante o processo de escrever. Nesses cenários me absorvo dos ruídos ao redor.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
O que me tem travado e procrastinado atualmente é a dificuldade de colocar o livro numa editora. Desde que minha primeira editora fechou fiquei pulando de galhos não tão confiáveis e isso me tem inibido atualmente. O maior estímulo para escrever o livro coletivo foi trabalhar com companheiros essa questão de editoria. Isso está ficando muito complicado ultimamente.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Não tenho textos já publicados que me deram muito trabalho, só chego a eles com uma boa história para contar. Tenho orgulho por motivos diferentes de cada um deles. Um que meu trabalho ainda não foi concluído. Vai chegar o momento de desenvolvê-lo
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
Apenas os divido se no campo do meu trabalho, enquanto um trabalhador de Saúde Mental (tenho dois livros na área, mas não são técnicos, podem ser lidos também por leigos) ou os de contos e romances (tenho três romances escritos, uma novela em elaboração e um livro de memórias). Claro que penso em quem vai lê-los, mas não me preocupo em agradar. Cada livro publicado é quem encontra seus leitores. Aí posso dizer que nem temos o mesmo gosto. Não foram os que mais venderam os que mais gosto.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Alguns grandes amigos leem meus textos ainda em elaboração quando a ideia está formada e depois de prontos. A opinião deles é valorosa.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Sou um escritor tardio. Gostaria de ter começado muito antes.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Depende do que estou escrevendo me agarro mais em um ou outro escritor. Nem sei se tenho um estilo próprio.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
São dois os livros que quase obrigo meu interlocutor ler para que possamos falar de literatura: Grande Sertão: veredas de Guimarães Rosa e Os Sertões de Euclides da Cunha. O húngaro Sandor Marai e o carioca Lima Barreto estão nas minhas indicações.