Diego Callazans é escritor.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não sou uma pessoa organizada, escrevo quando tenho picos de criatividade. Embora eu geralmente tenha vários projetos em mente ao mesmo tempo, gosto de trabalhar um por vez.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Eu começo escrevendo uma sinopse. Depois vou elaborando até ter uma versão mais ampla, já com a divisão em capítulos devidamente prevista. Com o esqueleto pronto, eu parto pra versão final. Mas com Teresa, que será publicado no fim de 2021, pela Urutau, eu variei na fórmula. Fui da sinopse à versão final criando a estrutura conforme escrevia. Como se trata de uma novela, sendo, portanto, algo linear, não tive problemas em encontrar o caminho. No geral, é mais difícil escrever a primeira frase. Acho bem simples e simplesmente adoro escrever a última.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Sigo. Eu tiro algumas horas por dia pra escrever e tento fechar um certo número de capítulos por dia. Vai depender do livro. Quanto à sonoridade, eu preciso de controle sensorial do ambiente. A princípio, meu quarto, nas horas mais silenciosas, às vezes ouvindo determinado tipo de música pra compor o clima ou pra distrair parte do cérebro enquanto escrevo.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Eu tento escrever ao menos um capítulo por dia. Há dias em que nem isso consigo. Paciência. Quando me sinto travado, eu tento me valer de jogos de palavras. Algo pra desobstruir a criatividade.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
A resposta pras duas perguntas é a mesma: meu romance Urinol, publicado em maio de 2021 pela Caravana. Eu ganhei uma residência literária para transformar o que era originalmente um conto num romance e o processo foi bem desgastante. Mas estou muito satisfeito com o resultado.
Como você escolhe os títulos para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
O tema surge de uma conversa cotidiana ou de uma reportagem ou de um recorte biográfico. O leitor ideal sou eu mesmo.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Depois de fazer a primeira revisão. Eu mando para uns poucos amigos. Aquele com o qual eu tenho um diálogo mais proveitoso é o Pádua Fernandes, que escreveu as orelhas de Urinol e Teresa.
Você se lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Eu comecei me dedicando à poesia. Publiquei meu primeiro livro em 2013. Só vim lançar meu primeiro livro de prosa em 2019. Mas foi em 2018, quando Urinol me deu a residência literária no Sesc Santa Catarina, que senti que era um escritor profissional. Até escrevi sobre isso. Minha expectativa é de publicar mais alguns livros ainda essa década e ganhar mais público. Gostaria de ter ouvido, no Ensino Médio, quando comecei a escrever poemas e contos, que um dia eu seria um autor publicado.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Vou falar do caso da minha prosa, porque acho que ela está mais madura que minha poesia. Eu não demorei a achar um estilo próprio. Eu demorei a aceitá-lo. Inicialmente, eu achava que não estava bom o bastante, mas depois, em conversas com leitores especiais, vi que o que eu achava ser uma falha era visto por outros como uma virtude. Muitos escritores me influenciaram, como Poe, Woolf, Tchekhov, Lovecraft… mas sinto que nenhum me influenciou tanto quanto Machado de Assis. O pessimismo irônico metalinguístico de Brás Cubas é algo entranhado em Urinol e mesmo em Teresa.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Orlando, de Virginia Woolf