Débora Gil Pantaleão é escritora, professora, editora na Escaleras e doutoranda em Letras pela Universidade Federal da Paraíba.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho uma rotina de trabalho árdua, mas não possuo uma rotina para escrever literatura. Atualmente, estou ministrando aulas na Universidade Federal da Bahia como Professora Substituta.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A forma que eu escrevo é bem fragmentada. Qualquer momento do dia, qualquer lugar, pode ser um momento de escrita, daí que os caderninhos, o grupo no whatsapp apenas comigo mesma, o bloco de notas do celular, funcionam bem pra mim.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
No momento estou revisando e trabalhando na pré-produção da publicação e do lançamento do meu próximo livro, uma novela chamada repito coisas que não lembroque sairá pela Editora Escaleras, com minha edição e fotografias de Bruna Dias. Mas, quando estou com algum projeto de livro, seja de poesia ou prosa… mas principalmente quando é prosa, fico um tanto obsessiva pelo livro. Penso 24h, falo nele 24h, as ideias vão borbulhando na cabeça.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Antes de começar eu realmente preciso tomar diversas notas, fazer linha do tempo, etc, etc… Essas burocracias que pra mim são bem úteis. Penso muito no “conceito” do livro. Até então as pesquisas que já faço no mestrado e doutorado vão adentrando os meus livros literários, mas também acho possível que em algum momento eu precise primeiro me dedicar a alguma pesquisa para, então, escrever.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
De 2015 a 2018 vivi momentos extremamente produtivos. De lá pra cá, publiquei quatro livros de poesia, um livro de contos, uma novela, organizei uma antologia com textos dos meus alunos e alunas das oficinas de escrita literária que ministrei nos últimos anos, então é bem recente eu estar me sentindo “travada”. Ainda não sei lidar com isso… (risos) Ano passado escrevi repito coisas que não lembroe das últimas eleições pra cá não tenho escrito praticamente nada.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso inúmeras vezes. Costumo trocar palavras e cortar coisas… Nunca adicionar. Tenho vários amigos que normalmente editam pra adicionar, acho isso interessante. Talvez não aconteça comigo porque minha escrita é muito enxuta, direta, mesmo sendo tão subjetiva. Eu sou uma pessoa que adora mostrar o que escreve, então sempre costumo mostrar para amigos e amigas escritores e escritoras que terão algo a agregar. Nunca mostro a quem só faria elogios.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo à mão, embora já tenha escrito muitos poemas diretamente no celular, mas tenho medo de assalto (risos). Imagina levarem meus caderninhos. Medo também de o celular pifar ou sei lá… Gosto muito de salvar meus materiais no google drive.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm muito do que me angustia. Adoro a frase de Toni Morrison: Se há um livro que você quer ler mas que ainda não foi escrito, então você deve escrevê-lo. Acho que essa é a minha trava atual, estou esperando esse livro que eu queria ler e não existe ainda e preciso escrevê-lo. Ainda não o encontrei. Sei que um dos temas que tenho interesse em desenvolver em um livro atualmente é a questão da exploração/escravidão animal que, na verdade, para o leitor atento, esse tema já tem aparecido em meus livros.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que, de alguma forma, minha escrita amadureceu. Gosto muito da literatura experimental… Jogar com formas… Sobre a Débora e seus primeiros textos, eu diria para não ser tão ansiosa e para ler mais (poesia, prosa e dramaturgia).
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Acredito que esse romance que tenho algumas ideias, mas que estou travada por ainda não ver nele o que eu queria ler e ainda não li. Tenho muito medo de virar uma escritora que escreve o que o leitor quer ler e não o que eu acho importante que chegue ao mundo. No momento, minha pesquisa tem sido ler diversos autores e autoras romancistas – brasileiros e estrangeiros.