Davi Koteck é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo sempre num horário limite para que o resto do dia funcione. Quando não tenho aula ou trabalho (o que geralmente acontece nos finais de semana), levanto entre as sete e meia e oito horas e saio para correr. Depois, escrevo o máximo que consigo extrair. No restante do dia, revezo entre a leitura e a revisão compulsiva do texto.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não há, obrigatoriamente, um horário determinado. Na grande e esmagadora maioria das vezes acontece no intervalo entre os turnos: início do dia, final da manhã, de tardezinha etc. Apenas por uma questão prática. Não sigo necessariamente um ritual. Gosto de não ter compromissos depois, e de extrema sobriedade, em todos os sentidos. Deixo a ideia fermentar antes de se transformar em texto. Anoto referências, imagens, cenas, frases etc. Quando sento para escrever, junto os fragmentos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende. Procuro manter uma rotina literária na medida do possível. Isso quer dizer que todos os dias penso em estrutura, ideia solta, frase, mas não necessariamente escrevo. O que posso chamar de meta é quando começo um conto e não descanso até ficar satisfeito. É possível escrever durante o dia todo e não sair do mesmo parágrafo. Mas é difícil fechar o word com um trecho que não será aproveitado.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É muito difícil que surja de um ponto de partida diferente do personagem e sua questão essencial. O resto é só uma história. E a história é a parte mais fácil. Acredito que nunca será possível compilar notas suficientes. Às vezes estou com o texto pronto, e continuo anotando ideias – o texto se recicla. Mas tem que saber parar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como tudo na vida, sempre há insegurança. Lido do jeito mais penoso de todos. Encaro a tela branca e esquento a cadeira até pôr os dedos a trabalhar. Existe um limbo inocente e perigoso entre o fermentar de um texto e a procrastinação. É necessário achar o equilíbrio.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso até enjoar. Até achar cada parágrafo insuficiente. Depois, ponho o texto a descansar por uns dois dias e tenho uma leitura nova e bastante honesta. Acho que funciona assim. Sim, mando para os escritores Rodrigo Tavares, Vitor Necchi e Luiza Casanova.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Absolutamente natural. Junto o máximo de fragmentos onde possível: na palma da mão, num guardanapo, no verso de uma folha. No fim salvo os trechos no bloco de notas do celular. Depois escrevo direto no computador, sem exceção.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Se descobrisse o buraco onde se escondem as ideias, não encontraria motivação para escrever literatura. Vai saber o que acontece no escuro. Há um plano minimamente satisfatório de rotina, que começa com corridas de longa duração até um dia cheio de leitura. Isso é o razoável para manter a sanidade. Por consequência, escrevo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Participar da oficina literária Assis Brasil encurtou alguns anos de aprendizados que teria pela frente. Suponho que escrever apenas o que for necessário para história, evitar excessos, pensar o personagem como grande ponto crucial de cada conto. Acontece que têm coisas que funcionam no seu próprio tempo. Paciência.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O projeto que eu gostaria de trabalhar vai ser para sempre o próximo livro. Se for de qualquer outra maneira, não vai funcionar. Um romance póstumo do Noll ou inédito do Raduan Nassar.