Daniel Barros é escritor e professor da Escola Superior de Polícia de Brasília.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não trabalho com vários projetos. Iniciado um novo livro, concentro-me apenas nele, não escrevo nem mesmo contos. Preciso de concentração total no projeto. Escrevo crônicas, artigos e resenhas, no período, que não interferem na criação do livro.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Sem dúvida que seria escrever o final, mas como só inicio um novo projeto a partir do desfecho final, não tenho este problema. Sabendo como termina toco o enredo. No livro que estou escrevendo, fiz um esboço dos núcleos dos personagens, já que são muitos e diferentes.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Sim, preciso de tranquilidade e de estar só. A criação é para mim um momento de introspecção. Escrever todos os dias é fundamental para meu processo criativo.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Neste caso sigo o conselho de Hemingway: escrevo algo verdadeiro. Não confundir verdadeiro com real.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Canto escuro, editora Penalux 2019, meu último livro foi muito trabalhoso, mas valeu a pena, pois foi finalista no International Latino Book Awards 2020. Gosto muito de Mar de pedras, Thesaurus 2015, mas saberia dizer se é meu predileto.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
Observo, escuto e aceito conselhos. Mar de pedras o tema foi sugestão do poeta João Carlos Taveira. Sarkara de Sangue, livro que estou escrevendo, foi uma sugestão da minha esposa a artista plástica, Andréia Pessoa, passávamos por um canavial no interior de Pernambuco, quando ela disse: por que não escreve sobre eles (os cortadores de cana). Achei a ideia fantástica, entretanto um tema muito difícil, mesmo sendo agrônomo estou há muito tempo afastado da realidade dos canaviais de minha terra (Alagoas), onde trabalhei anos atrás. Estou realizando muita pesquisa e entrevistas.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Só compartilho quando termino a primeira escrita. Tenho alguns escritores que busco opinião, mas principalmente dois: O poeta e artista plástico Ivan Marinho (Pernambuco) e o escritor Paulo Souza (Brasília), estes são os primeiros leitores.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Escrevo há muito tempo, mas só publiquei meu primeiro livro em 2011, influenciado pelo poeta Emerson Vaz Borges (Goiás). Gostaria de ter ouvido para ter mais paciência.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
O estilo vem da nossa vivência, de nossas raízes, de nosso olhar, de nossa cultura e de como nos inserimos na sociedade. Mas acredito que estamos sempre em aperfeiçoamento de nosso estilo.
As influências e inspirações são muitas e a cada momento surgem novas.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
FULIGEM, de E. E. POSTALI. Uma investigadora determinada, um jornalista à procura de respostas e um policial buscando redenção envolvidos em um crime não solucionado. Nas ruas de Porto Alegre, a colisão de suas vidas movimenta os pratos da balança entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira, jogando-os em um redemoinho mortal.
Colapso, de Ricardo Labuto Gondim. Dobre uma esquina e encontre o amor envenenado pela crueldade. Lugares suspensos entre o Abismo e o Nada. Dimensões que ninguém deveria olhar. Esperanças que dissimulam a ruína. . Estados mentais piores que a morte. Dobre a esquina e entre em Colapso.“Colapso” reúne oito contos fantásticos de Ricardo Labuto Gondim, autor premiado de “Corrosão” e “Pantokrátor”. O Universo e as esquinas são cenários de narrativas perturbadoras, que desafiam a classificação. Do Reino de Acab no século IX a.C. à noite de amanhã, passando pela ascensão e queda de Dom Pedro II. Da Basílica de Santa Croce, em Florença, às ruas do subúrbio carioca, passando pela última onda da praia de Ipanema. “Colapso” é a emoção e o prazer de ler. Mesmo quando a emoção é o terror.
Todos os abismos convidam para um mergulho, de Cinthia Kriemler. Precipício, profundidade, imersão – Cinthia Kriemler nos convida a conhecer os mínimos e máximos abismos de existências que transitam entre a vida e a morte dentro de um cotidiano de violências e estragos. Universos internos e externos são explorados e lançam o leitor em um mergulho semelhante a um afogamento.