Cristina Macedo é poeta, escritora e tradutora, mestre em Literaturas de Língua Portuguesa.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
As manhãs variam: vão desde acordar às 6:00 em alguns dias da semana, até não ter hora para acordar, caso das segundas, quando tento escrever, pelo menos, durante umas três horas. Meu dia é dedicado a dar aulas de inglês, começando com um belo café da manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho ritual para escrever mas, basicamente, preciso estar voltada para a literatura, ou seja, preciso de minha mente relaxada para a criação, sem que outros afazeres se interponham. Por exemplo, dou muitas aulas de terça a sexta, então nesses dias é bastante raro que eu possa sentar e escrever. De qualquer modo, sempre trabalho melhor pela manhã.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo pouco. Tenho, porém, alguns períodos mais literariamente férteis, em que os sentidos estão em rebuliço, as inspirações fecundas, a palavra na ponta da língua.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não faço pesquisa para a escrita. Escrevo poemas líricos, um tanto eróticos, meio que de um jorro. Há, no entanto, o processo de captura da ideia, da forma, da rima que me pareça estar bem.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Pois é, como o escritor pode, teoricamente, fazer o seu próprio horário, a procrastinação é um fato. Tento não me preocupar muito com isso, acreditando que a inspiração acabe por retornar. A ansiedade acontece bem mais quando estou traduzindo literatura, como quando eu e Rodrigo Garcia Lopes traduzimos ARIEL, de Sylvia Plath, poesia. Foi maravilhoso e difícil ao mesmo tempo, mas certamente é um trabalho ao qual eu sempre retornaria.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Hoje sei que o trabalho de revisão nunca termina realmente. Antes de lançar DO ARREBATAMENTO, meu livro de poesia, revisei inúmeras vezes cada um dos poemas, e poderia continuar revisando ad infinitum. A cada nova leitura, novas possibilidades de escrita se descortinam.
Mostro meus poemas para pessoas bem próximas, mas também para orientadores poéticos ou literários.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Os primeiros esboços do poema faço com lápis e papel. Aliás, até hoje amo folhas, cadernos, lápis, caneta. Depois de muito riscar ou apagar, passo o poema para o computador. Claro que hoje o computador tornou-se imprescindível e faço uso dele diariamente. Porém, sempre vou preferir escrever à mão, bem como ler segurando um livro real.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias, quando vêm, chegam dos mais diversos modos: de uma palavra inspiradora, das leituras que faço, dos sonhos, das ruas, das gentes…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudei na minha escrita, principalmente, foi o gênero. Comecei escrevendo e publicando contos e, alguns anos depois, me voltei para a poesia. Aprende-se sempre a burilar a palavra, ir em busca da melhor ideia, revisar incansavelmente o texto. Considero importante o equilíbrio entre a técnica e a emoção, o impulso, a criatividade.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Um projeto que tenho, mas estou procrastinando, para usar o termo de uma das questões, é tornar do arrebatamento bilíngue, ou seja, selecionar os poemas que mais gosto e publicá-los em português e inglês. Preciso sentar e começar a tradução.
Que livro eu gostaria de ler e ele ainda não existe? Gostaria de ler todos os livros do mundo!