Cristina Flores é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Me acordam, gente ou bicho ou relógio – grandes/pequenos. Ou problemas ou idéias – grandes. Nunca acordei, acordei 1 vez com 14 anos e já eram quatro da tarde. Se precisasse acordar por mim mesma teria q confiar num sonho, talvez passasse a sonhar num tempo definido e não à vontade sabendo q serei interrompida. Gosto q me escape uma vez q acordo pro mundo acaba q acho justo o mundo me acordar, mas hj reclamei. O q posso chamar d rotina: molhar minhas plantas, limpar areia de Prete, lara, Xéri, botar comida deixar beber agua na pia, apertar beq, ler, responder, decorar coisas, realizar ou apontar 1 auto-encomenda (sou 1 patroa e 1 empregada de mim de capricórnio com gemeos q pergunta e não ouve o suficiente as respostas sobre signos)
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Hora q trabalha melhor não ter. Como escritora posso dizer velha q trabalho o tempo todo e q não faço nada o tempo todo pq pra vários criticos de teatro por exemplo pensar é insuficiente vc precisa agir minha ação de preparação pra escrever é pensar solta muito tempo, agora até já sei quando tô escrevendo na minha cabeça antigamente não sabia achava q tava vivendo, tendo 1 opinião, agora sei q tô trabalhando 1 imagem feito arqueóloga/escultora/arquiteta/filósofa/principalmente 1 espectadora de mim, pq não sei o q acumulei, só descubro quando crio, quando lanço o q me alcançou, minha batatas quentes de estimação, profunda estima, infantil. Feito num jogo de Master, quando jogo Master descubro saber sobre afluentes de rios q nunca havia pronunciado num portugues castiço.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita tenho 1 fantasma do Gullar q li q ficava meses sem escrever e o Victor tb li q falou isso e nunca fiquei meses, já fiquei semanas, mas aí se me desloco já escrevo. Ir pra SP ou pro Lgo da Carioca já funciona pra mim. Tem q ser sozinha. E ter gente em volta q não conheço. E hoje em dia anoto em msgs pelo celular, não tô muito caderno. Ou fica só na minha cabeça e fico semanas escrevendo, tô escrevendo pro Victor desde q ele se matou, poemas q espatifam, tô agora fazendo músicas, ontem me entreguei uma, tenho 1 palavra q quero naturalizar (sapatão) e fico com ela na cabeça o tempo todo montando com ela em tudo. Acho q meu processo é esse: penso 1 coisa q me parece uma perspectiva q renova a coisa e fico brincando com ela, dando corda pra não enforcar, dando assunto, pergunto pra coisa quer sentar aqui?tá boa essa paisagem?vai beber? E a coisa vai se espalhando pela minha vida até sair. Ou tô puta. Preciso produzir palavras pra tacar contra 1 troço q me ofendeu ou magoou. Ou apaixonou. Junto um bando de palavras, convoco, venham a mim as q conheço, invento a q falta partimos pra dentro pra fora.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Fico pesquisando curióso o assunto até ter q escrever. Escrever pra mim é q nem ter vontade de fazer xixi, deixo o palco, já mijei num, quando apita vou escrever em qq lugar, guardanapo, braço, páro a trepada, quando preciso escrever é imperioso, cocô não faz isso comigo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho neurose com escrever, prazos externos ou internos. E tb topo ser ruim, tem 1 coisa q é uma deformação profissional do ao vivo, tô acostumada a uma fugacidade q vence tudo, tudo q era pra amanha vira de ontem muito rápido. Sou boa em me perdoar, gosto sim é de estar preparada, me pergunto fiz o q podia?no sentido de que não gosto de estar a passeio sem nenhuma espécie de obsessão, gosto de me alugar com demanda, de me alargar com propósito externo claro, nunca fui de dar 1 volta na lagoa por caminhar, preciso ter 1 destino, caminhar é 1 escolha de meio não 1 fim, e percebi há muito q só me movo pra fins, vc me pergunta de metas, respondo não tenho, seria sobreviver, mas q só começo com um fim. Q não conheço mas sei q tem. É perfeito pro nosso tempo? De 1 profunda arrogância, como quando tinha 11 anos e na aula de geografia o professor chatão me botando goela abaixo q a terra era redonda e eu não conseguia visualizar, a terra tem beira tenho certeza, argumentei definitiva como todo ignorante, ele: não tem é redonda, eu: não existe o que não tenha beira, ele: a terra é redonda como se eu não pudesse compreender e eu:q não podia eu: respirei tão fundo calei a promessa q me fiz quando crescer vou até a porcaria da beira da terra, pq ninguém foi ainda, não tô acreditando q ninguém foi, tudo bem, gente p r e g u i ç o s a, eu vou. E descobri na análise há anos q quando vejo 1 incendio corro pra ele e não dele. Isso é o q escrevo,como escrevo, com certeza.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso o resto da vida meus textos, outro vício de atriz, não repito mesmo q repita, mexo alguma coisa senão morri. Não sofro com procrastinações pq inventei 1 mentira sensacional pra mim, e 1 mentira anunciada tipo peça do Brecht, não me escondo q é mentira mas ainda funciona, feito o patriarcado, a igreja, é fascinante, nessa era da pós-verdade vc pode levar seu cérebro à paragens m a r a v i l h o s a s, exemplo: Digo pra mim q só preciso viver de ser atriz. Ser atriz é minha adulta. Sendo atriz tenho prazos, executo os projetos profissionalmente, tenho nota de MEI, tenho carteira do sindicato e assino CT. A questão é q ser atriz é 1 lugar de poder meio relativo, atrizes são escolhidas, atrizes não são empregadoras. Então não podia ser só atriz, a sensação da prateleira seria fatal pra meu desejo de algum controle, dai nasce a escritora, a inventora de palavras q juntas me empregam em peças, poemas,jardins penetráveis, audio books, partiu séries. Milhares de vezes me empreguei, mas é sempre desse jeito, a atriz contrata. A autora é 1 mulher desimpedida, vendida por amor a mim mesma, a atriz é minha puta, e não adianta ficar putinha.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Uso mal a tecnologia mas tenho escrito a mão cada vez menos. É q não decifro minha letra, quando tenho ideia e preciso pôr no papel faço muito rapido e meus garranchos tem envelhecido comigo, estão hieróglifos atualmente. Escrevo muito por auto-msgs pra mim no celular. Ia amar poder mandar auto-mensagem pra mim por whatzap mas não consegui e me mando auto-msgs de celular velha mesmo. Nem dá pra link.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Talvez minhas idéias venham do ponto amarelo q vejo quando fecho os olhos, tem 1 brilho entre os meus olhos quando vejo por dentro de olhos fechados, quando medito essa luzinha fica bem clara. Acho q é minha fogueira, das minhas bruxas q sobreviveram e mortas. Acho q minhas idéias tb vem de eu continuar a olhar pro lugar vazio q fica depois q saiu o q eu tava olhando. Sempre descubro coisas no vácuo. Por isso talvez tenha tido dificuldade com namorar mais de 1 pessoa ao mesmo tempo, ou essa invenção de ver celular em cada minuto vago, preciso ficar sem estímulo depois de estímulos, numa digestão solitária do q o mundo me põe pra engolir, já q sou a cobra, o chapéu, o elefante e comi o pequeno principe.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Só isso q Não mudou. É Meu único fóssil q resta e resta e resta e de resto não vira silêncio, pelo contrário, me tira do silêncio. Escrevo pra sobreviver e vivo disso de 1 jeito ou de outro desde sempre para sempre até sumir feito 1 povo, 1 biblioteca.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tô escrevendo “Todos os Homens do Mundo” pra virar série e fazendo o mesmo com “Violência Doméstica, o Musical”, esses dois projetos seriam peças mas teatro tá muito difícil de produzir, então em teatro mesmo prefiro lançar 1 moda, numa performance q escrevi/escrevo: “Mamilo Broche de Mamilo”. Outra série q escrevo é “Você me faz mais Sapatão”, essa já nasceu série, escrevo com minha namorada. E 1 projeto q não sei se chamo de teatro mas devo chamar pra vender é q comecei a desenvolver um desejo antigo de 1 fase até recente em q eu andava meio triste e não queria ir, então escrevi 1 peça pra mim q eu não precisasse ir, 1 penetrável sonoro chamado “Peça sem mim”, uma peça/jogo onde 1 manual faz o papel de roteiro e minha voz usa o seu corpo pra criar as imagens d q precisaremos.
Além disso crio com a coletiva “Mulheres de Buço” 1 EP inspirado no “Um teto todo teu” de Virginia Woolf.