Claudia Manzolillo é escritora, mestra em Literatura Brasileira pela UFRJ.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Na realidade, não tenho um planejamento de trabalho. Priorizo as atividades conforme a demanda. Quando estou revisando textos, me dedico prioritariamente à atividade que requer atenção e tempo, às vezes, exíguo para entrega do trabalho. Os projetos literários obedecem ao desejo manifesto pelo próprio texto. Se assim é, me dedico inteiramente a escrever.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Como disse anteriormente, não sou de planejamentos quanto ao trabalho literário. Deixo fluir ao sabor do próprio texto que, no meu caso particular, me toma pela mão e segue seu caminho. Interessante notar que, especialmente nos textos em verso, em certas ocasiões, escrevo dois versos iniciais como se fossem uma epígrafe e, ao final do poema, leio e corto esses versos iniciais. Também, quanto aos versos finais, costumo “limá-los”, suprimindo alguma palavra ou mesmo versos que me parecem desnecessários por serem explicativos em demasia.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Prefiro o silêncio e a tranquilidade das horas noturnas, mas já escrevi durante intervalos no ambiente de trabalho.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Simplesmente, deixo o texto comandar. Que seja no tempo dele. Não me abalo com a demora.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
O que me deu e me dá ainda mais trabalho é o romance que estou escrevendo. Deixei de lado há algum tempo por problemas pessoais. Tenho um apreço especial pelo ensaio sobre personagens femininas na obra de Lygia Fagundes Telles e por uma série de poemas cujo tema, recorrente em meus escritos, é o universo feminino, mais especificamente, as divas do cinema, como Audrey Hepburn e Marilyn Monroe. Esse projeto ainda está em elaboração.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Observando o mundo ao redor e o meu em particular. Procuro pensar nas pessoas que, assim como eu, têm necessidade de alguma beleza e serenidade em meio ao caos.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Leio algumas vezes antes de postar, mas não tenho hábito de mostrar a alguém antes de publicar. Minha leitora primeira era minha irmã Marcia Romana Manzolillo, que, tristemente, me deixou em abril deste ano, vítima de Covid.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
A escrita é algo inerente ao meu dia a dia. Posso dizer que me acompanha desde sempre. Quando jovem, procurei uma editora para publicar um livro de poemas. Ouvi do editor palavras secas que não me motivaram a prosseguir. Só na maturidade, voltei meu interesse para publicar novos textos. Gostaria de ter ouvido palavras de incentivo e de ter tido, por parte de pessoas do meio literário, um olhar sobre os textos, já que o tal editor nem leu o material que levei para apreciação.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Sou bem tranquila quanto a isso. Não imponho nada à escrita. Não quero seguir modelos. Aprecio muitos escritores – mulheres e homens – de épocas e estilos diversos. A contemporaneidade é uma mistura de tendências. Cabe ao escritor definir “a roupa” com a qual se sente mais à vontade. Nada de imposições ou formatos que aprisionem o escritor. Por exemplo, me sinto bem escrevendo haicais e poemas em forma de soneto ou sem obedecer à métrica alguma.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Coral e outros poemas, de Sophia de Mello Breyner Andresen.