César Manzolillo é escritor, pós-doutor em Língua Portuguesa pela USP.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Ter vários projetos em andamento é algo que procuro evitar. Essa é uma situação que me gera desconforto e a impressão de que estou um pouco perdido. Gosto de observar prioridades e procuro ir realizando as tarefas em função dos prazos. É claro que nem sempre essa situação ideal se verifica, e, às vezes, acabo sendo forçado a tocar mais de um projeto ao mesmo tempo. Seja como for, o importante é que se consiga produzir e que o resultado seja satisfatório.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Um trabalho artístico não pode estar submetido a regras rígidas. Muitas vezes, se percebe que a ideia inicial, que parecia tão perfeita, será mais proveitosa se for adaptada ou modificada de alguma forma. Nesse sentido, o trajeto percorrido até a conclusão torna-se secundário. Sem dúvida, escrever a primeira linha é mais difícil. De modo geral, o terror da página (ou da tela) em branco, em algum momento, constitui uma realidade para os escritores, algo que intrinsecamente faz parte desse ofício. Mas acho que cada um vai desenvolvendo estratégias próprias, capazes de contornar esse inconveniente.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Não sigo rotina e nem desejaria seguir. Me agrada a possibilidade de produzir algo inesperado, surgido num momento de inspiração especial. Ideias aparecem de onde menos se espera, precisamos estar preparados, independentemente de planejamentos prévios. No meu caso, o silêncio é sempre bom. Até mesmo uma música suave ao fundo me desconcentra um pouco.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Não desenvolvi técnicas nesse sentido. Na realidade, não faço nada, apenas espero. Se é importante, o tempo propício para a realização de uma determinada tarefa acaba chegando.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Sem dúvida alguma, a tese de doutoramento. As pessoas não têm ideia de quão complexa essa tarefa é. No campo da ficção, escrevo basicamente contos, textos mais curtos e menos complexos, eu diria. Tenho feito tentativas de escrever peças teatro, o que julgo não ser tão fácil. Nesse campo, ainda não consegui concluir nenhum texto. Mas acho que vai acontecer algum dia. Me orgulho de todos os textos que já escrevi. Não quero dizer com isso que sejam todos ótimos, mas são, com toda certeza, fruto do que melhor poderia oferecer naquele momento.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
Os temas me escolhem. Uma situação me mobiliza e decido oferecer a ela, de algum modo, um viés artístico. Nunca penso num possível leitor ideal. Aliás, para o bem ou para o mal, nada é ideal neste mundo.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Na verdade, não tenho muito o hábito de mostrar meus textos para alguém antes da publicação. Acho que é uma prática válida, mas acabo não fazendo tanto. Isso pode acabar sendo um incômodo. Afinal, todo mundo é sempre bastante ocupado hoje em dia, e grande parte das pessoas não têm essa disponibilidade. Oficinas literárias, que frequentei com assiduidade nos últimos anos, constituem, provavelmente, o local mais adequado para ouvir a opinião alheia a respeito daquilo que escrevemos.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Quando era adolescente, fiz algumas tentativas de escrever textos literários. Era tudo muito ruim, e acabei deixando essa ideia de lado. Passei então a me dedicar à vida acadêmica. Só bem mais tarde, senti vontade de escrever literatura novamente. O que alguém poderia ter me falado? Sinceramente, não sei. Mas duvido que tivesse feito diferença, cada trajetória é única e intransferível.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Penso que o estilo de um escritor é algo que se desenvolve naturalmente, muito em função de suas experiências de vida e das leituras que realiza ao longo do tempo. Não saberia identificar um autor que tenha me influenciado de modo particular.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Essa é fácil: Os cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Italo Moriconi. São tantos autores e tantos textos diferentes selecionados de modo particularmente criterioso. Acaba funcionando como uma escola pra quem aprecia (e quer se dedicar a escrever) o gênero.