Catharina Zanetti é escritora, professora e tradutora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Com música! A música faz parte da minha rotina do acordar ao dormir. Procuro sempre despertar com qualquer coisa que me desperte o bom humor.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
As manhãs são mais favoráveis, mas as madrugadas acolhem as minhas ideias mais profundas. Costumo aproveitar esse momento de solidão para buscar desenvolver algum pensamento, alguma observação que fiz durante o dia. Coloco um mantra, como faço sempre quando quero escrever, e deixo fluir.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sou viciada em anotações. Tenho o bloco de notas do celular cheio de frases soltas, observações de gestos, frases que ouço pelas ruas… Não escrevo textos todos os dias, mas registro emoções diariamente. Quando surge uma inspiração, recorro a estes escritos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O meu processo envolve leitura e, sobretudo, dedicação. Quando tenho a organização do texto na cabeça a partir das anotações que guardo, faço o primeiro esboço, que será lapidado algumas vezes. Raramente o que escrevo já é o texto final. Troco palavras, busco um ritmo nas frases e leio em voz alta. Considero mais difícil finalizar do que começar, justamente por esse processo de ajustes que vou fazendo. Há uma cobrança pessoal, creio. E essa autocrítica é boa para os resultados que venho buscando.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A escrita pra mim é algo que habita o meu íntimo e este, por sua vez, é livre. Por essa razão, não me cobro. Quando tenho períodos em que as palavras não se organizam para caber no papel, procuro focar em outras atividades. A inspiração sempre volta, porque as sensações cotidianas nos levam sempre a qualquer reflexão que seja sobre nós mesmos e sobre o outro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas e muitas. A revisão é a peça chave do processo. Reviso até sentir que aquele texto me tocou de alguma forma. Tenho uma amiga que é revisora e leciona Língua Portuguesa, Alayde Werneck, que me auxilia neste processo. O olhar de um profissional antes da publicação é muito importante.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia faz parte da minha rotina diária. Sempre preferi começar qualquer rascunho nos meus cadernos, mas atualmente faço no primeiro lugar que é mais acessível. Nesta, o celular tem levado a melhor.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Das observações e das sensações que elas me causam. Para mantê-las sempre presente, procuro ler muito, conhecer pessoas e escutar músicas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O meu eu-lírico amadureceu, os meus textos amadureceram. A experiência, a leitura (sempre ela!), o aprendizado acadêmico, esse conjunto de fatores foram essenciais para que eu pudesse publicar o meu primeiro livro e manter uma constância de frases e textos no instagram. Acredito que a adolescente que fui ficaria muito feliz se eu pudesse voltar e dizer: ei, continua que a gente ainda vai se orgulhar muito dessa primeira frase que você escreveu aí no caderno.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gostaria de criar um romance com personagens totalmente sem marcação de gênero gramatical (feminino e masculino). Fiz isso no meu livro Com você, sem você mas dentro de uma estrutura de prosa poética, com textos independentes. Gostaria de fazer e ler este tipo de obra. É um desafio de escrita inclusiva e, a meu ver, atual e inovadora.