Caroline Maciel Pereira é poeta, jornalista e empreendedora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Desperto depois de um bom café da manhã… Em alguns dias, prefiro dormir até um pouco mais, para recarregar as energias e descansar a mente. Não sigo uma rotina específica.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Produzo mais à tarde e à noite, com intervalos. Costumo fazer uma oração antes de começar determinados textos, como pedido de inspiração. Em outros, acredito que o próprio texto já é uma prece. Enxergo o ofício de poeta como uma missão de ser instrumento da palavra, ser fiel à minha essência.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo bastante durante a semana, em períodos que sinto a necessidade de registrar algum acontecimento, aprendizado, reflexões. Tenho muitos cadernos escritos, gosto desse contato com o papel, mais do que com a tela do computador ou do celular. Mas, não me forço para atingir metas, porque essa pressão me traz ansiedade e pode me travar. Prefiro respeitar o meu tempo e emocional, mas aos poucos tenho tentado aumentar a produção poética e criar mais disciplina.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Escrevo sobre minhas experiências, a partir do meu repertório. Acredito que a poesia é esse olhar pessoal sobre a vida, que vai além de versos e rimas. É uma forma de enxergar a realidade e encontrar os detalhes.
Já fui selecionada em sete concursos literários e, em alguns deles, precisei abordar o tema sugerido ou foi me dada a liberdade temática. Eu amo escrever sobre autoconhecimento e saúde mental, ainda mais porque faço terapia há anos e é um processo transformador.
Atualmente, empreendo na criação de poemas personalizados com o nome das pessoas, para empresas e outros projetos. Portanto, recebo propostas diversas, como datas comemorativas, eventos, propósitos de grupos, produtos… Faço algumas perguntas para os clientes para produzir as encomendas.
Vendia porta-retratos com artes especiais, que apelidei de “porta-poemas”. Foi uma experiência muito bacana ver meu trabalho fazer parte da decoração de casas e ambientes corporativos. Ainda faço as artes, mas não mais em quadros e sim em PDF para ser enviada por WhatsApp ou e-mail, proporcionando a liberdade ao cliente de imprimir e escolher a sua moldura de preferência. É muito bom assumir essa função de traduzir uma intenção em palavras e criar mensagens significativas que promovem elos.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A psicoterapia auxilia bastante na questão da ansiedade e dos medos. Um livro que me inspira também é “A coragem de ser imperfeito”, da Brené Brown. Com ela, aprendi que vulnerabilidade não é fraqueza, mas sim força e é preciso ter coragem para assumir riscos. Nessa trajetória poética, entendi que não posso controlar o que os outros vão pensar a respeito de mim e dos meus textos, mas que posso tocar diferentes pessoas e gerar inúmeras interpretações a partir de um único poema. E é esse meu ofício: impactar corações. O meu valor não é definido a partir do feedback alheio. Não imagino a minha vida sem escrever, porque a poesia é uma forma de viver.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tinha o hábito de mostrar meus textos para outras pessoas antes de publicar, hoje não sinto tanto essa necessidade. É um treino. Reviso várias vezes… Inclusive, estou trabalhando no meu livro de poesia que não tem previsão de lançamento, revisando tudo… E é muito difícil saber qual é o momento certo de concluir as alterações. É um desafio que estou aprendendo a lidar. Sei, que no fundo, existe a “síndrome da impostora” que afeta muitos artistas e nos faz questionar sobre a qualidade do nosso próprio trabalho. Mas, quando reconhecemos que ele realmente tem valor e é único, tudo muda!
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Utilizo as redes sociais para divulgar meus textos, no Instagram @poesiapersonalizada. Acredito que o meio digital traz oportunidades sim, porém não é o único caminho. Não sou escrava do algoritmo e não posto todos os dias, mas gosto bastante da troca com os leitores e outros artistas. Escrevo tanto no caderno, como no computador, depende muito do dia, mas geralmente os primeiros versos surgem no papel.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm de sessões de terapia, caminhadas em que vejo o pôr do sol, das músicas que ouço, das conversas com amigos, de livros, observações sobre o comportamento humano no ambiente real e virtual, entre outras inspirações que recebo conforme vou vivendo…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Meus textos da adolescência falavam das paixões, do amor idealizado, do sofrimento, com temática religiosa muito forte… Nunca perdi o caráter reflexivo, mas aos poucos fui amadurecendo o olhar poético, sobre o mundo e as relações… Equilibrei minha conexão com a fé e entendi que nenhuma crença deve ser imposta… Esse é o ponto chave da minha transformação: perceber que não tenho todas as respostas, mas posso questionar o leitor a encontrar as suas.
Um recado para a Carol de antes: parabéns por ter ouvido a sua intuição e ter permitido aflorar seu dom, compartilhar suas inspirações com mais pessoas e não perder a sensibilidade. Não se cobre tanto, você ainda tem muito o que aprender… Continue liberando sua imaginação, sem se prender ao certo e ao errado. Obrigada por tudo!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de ver meus poemas em paredes, unir meu trabalho ao lettering. Ainda quero publicar meu próprio livro, que está em construção. Que mais escritores possam ecoar a sua própria voz no mundo!