Carola Saavedra é escritora, autora de Com armas sonolentas.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Trabalho de segunda a sexta de 8 às 15h, às vezes aos sábados também. Mas nessa rotina não há uma divisão muito clara entre escrita literária e outros trabalhos, como ensaios, pós-doutorado, traduções, textos acadêmicos, leitura crítica e preparação de aulas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A manhã é para mim o horário mais produtivo, quanto mais cedo melhor. Fora uma xícara de café, que eu tomaria de qualquer forma, não tenho nenhum ritual específico. A verdade é que, com uma filha pequena, os rituais viraram coisa do passado.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu tinha uma forma de trabalhar muito metódica antes do nascimento da minha filha, depois, escrevo quando dá, do jeito que dá. Na literatura não tenho metas, o que vier é lucro.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita do romance é muito intuitivo. Em geral começo a tomar notas sem saber no que vai dar. Apenas coisas, livros, imagens, ideias que me chamam a atenção. Anoto tudo em cadernos até que em algum momento o desejo surge, a vontade urgente de falar sobre um determinado assunto, quando isso acontece (tento não controlar esse momento), começo a pensar no livro, em sua estrutura e enredo. Então os dois processos: de anotações e de escrita passam a andar juntos, até o livro já estar bem adiantado, quando deixo finalmente a pesquisa de lado e me concentro apenas no texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Isso eu aprendi com a experiência, a lidar com o medo de não conseguir. Hoje eu sou bastante tranquila, sei que o medo existe, que faz parte e que é saudável até. Convivo com o medo (aprendi a suportá-lo) e escrevo apesar dele. Eu gosto de longos projetos, o romance é o gênero no qual me sinto melhor, gosto desse espaço em que tudo cabe, tudo é possível.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso muito, infinitas vezes, aliás, acho que a metade do tempo gasto no romance é de revisão. Acho importante, é na revisão que o texto vai alcançar o seu máximo, e, quase sempre, isso faz toda a diferença.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Faço minhas anotações todas à mão, em cadernos, preciso muito dessa proximidade quando estou pensando, tendo ideias. Mas o texto literário é sempre direto no computador, por uma questão de praticidade, e de rapidez também.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm do meu olhar para a vida, para o mundo. O único hábito que cultivo é viver intensamente, estar aberta para o desconhecido, para o mistério, e disposta a rever minhas opiniões.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A principal mudança foi que, o maior domínio da técnica, me permitiu um afastamento dela. Hoje em dia escrevo de forma muito mais intuitiva, deixo que o texto me surpreenda, e que surjam ideias inesperadas. Talvez, como disse anteriormente, a grande mudança tenha sido a capacidade de suportar o medo, o medo de dar errado, escrevo apesar dele.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Acabo de terminar um romance, o que é sempre um esforço enorme, e também um esgotamento. Me sinto sem ideias, por enquanto, preciso sempre de um tempo, no mínimo um ano, para que o desejo da escrita volte a surgir.