Carla Brito é poeta, autora de “Taunina: entre escrevivências e poesias”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu não tenho uma rotina para todos os dias, faço o que tenho que fazer, respeitando os prazos e meus compromissos, mas gosto de deixar algum tempo livre para eu esvaziar a mente, relaxar um pouco. Eu costumo acordar fazendo um agradecimento e uma oração, mas depois não sigo roteiro prévio. Tomo meu café geralmente na varanda, olho as plantas, tomo solzinho e vou vivendo devagarinho, nos dias que isso é possível. Em tempos de pandemia, as aulas têm sido remotas, o que me dá muita preguiça, então tento acordar pelo menos uma hora de antecedência para tomar banho e ter um café da manhã tranquilo, mas geralmente isso não dá certo, o resultado na maioria das vezes é trocar pelo menos o pijama, lavar o rosto para dar uma acordada e tomar café da manhã nos primeiros minutos de aula.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Meu processo criativo funciona melhor durante à noite, é o momento em que tenho menos compromissos, então vou desacelerando, quando as reflexões e as ideias de escrita surgem com mais facilidade. Eu não sigo nenhum ritual, minha relação com a escrita é muito vivencial e momentânea, às vezes sento para escrever algo e não sai da forma que penso e sinto, mas em algum momento despretensioso, sobretudo, na hora de dormir as ideias vêm, então pego o celular e anoto no bloco de notas.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo em períodos mais concentrados, como mencionei anteriormente. Há dias que é uma Amazônia de criações, em outro um Saara completo. Eu não sou uma pessoa que estabelece muitas metas na vida, tenho meus sonhos, planos e vou caminhando conforme os recursos. Acabo tendo certa resistência a metas, sobretudo para minha escrita diária, pois sou uma pessoa muito autocrítica que tende a se frustrar com certa facilidade e, como não temos muito controle (ou nenhum) sobre os acontecimentos da vida, imprevistos acontecem, e assim, não cumprir uma meta me frustra demais. Eu acredito mais em planejamento do que metas, me sinto melhor tendo essa visão.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita é muito intuitivo e natural, não me prendo muito a técnicas e nem a uma rotina. Como eu tenho facilidade para escrever, então quando começo as ideias vão fluindo naturalmente, é difícil começar quando não me sinto inspirada e intuída naquele momento e me forço a escrever, não gosto de fazer isso, primeiro porque já há tantas demandas obrigatórias que me forçam a fazer coisas; segundo que essa obrigação me faz perder o prazer em escrever, pois eu preciso sentir (seja o que for) no processo de escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu tento respeitar esses momentos, pois são travas humanamente aceitáveis, dentre essas, a que tenho mais dificuldade em lidar é a de não corresponder às expectativas, eu espero muito de tudo e todos, e então isso acaba resultando naquela frustração que falei antes. Porém, depois de tanto criar expectativas e me frustrar, estou melhorando muito nesse quesito, a psicoterapia tem sido fundamental nesse processo. Não é parar de esperar, mas diminuir a intensidade das expectativas para que eu não me afete tão negativamente.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Esse quesito varia muito, há textos que escrevo e, ao serem concluídos, eu acho que estão ótimos como ficaram; mas, geralmente, eu reviso bastante, gosto de deixar uns dias de “molho”, pois sempre há algo para melhorar. Se for algo que não tenho muito tempo para revisar, peço a alguma amiga para ler com o olhar crítico. Há anos, antes de eu criar minha página @cbtaunina, eu escrevia só para mim, como desabafo; organização dos pensamentos, entendimento dos sentimentos; quando eu sentia que gostaria de compartilhar com alguém, mandava para uma ou duas amigas. Nesse sentido, chegou um momento em que percebi que deveria lançar as minhas palavras ao universo e compartilhar com outras pessoas, pois pensei: “se outras pessoas escrevem coisas que eu me identifico, por que isso não aconteceria comigo? Posso ajudar outras pessoas de algum modo”. Bem, isso tem fluído!
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu me relaciono muito bem com a tecnologia, sem ela, não estaria divulgando meus escritos, meu Projeto Taunina e meu primeiro livro “Taunina: entre escrevivências e poesias” através de minha página @cbtaunina. A escrita para mim é um refúgio desde o início da adolescência, como eu tinha medo de escrever coisas em papel/cadernos e alguém encontrar e ler, eu escrevia tudo no computador, pois era só meu, decodificava os nomes dos arquivos como prevenção. Minha insegurança sobre o que sentia e transcrevia em palavras permaneceu anos mais tarde, até o segundo semestre de 2020, quando eu comecei a colocar minha carinha no sol, assinar meus textos, falar quem sou eu nos meus posts. O próprio nome da página surgiu como forma de manter meu anonimato, mas me sinto muito feliz por ter conseguido me libertar dessa insegurança num nível tão aprisionante. Hoje, eu recorro muito ao celular, mas tiro um dia para transferir os escritos para a nuvem como forma de prevenir que os textos se percam. Por outro lado, há dias que gosto de ficar um pouquinho mais distante do celular, então vou para um lugar calmo com papel e caneta, se fluir ideias vou escrevendo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vem, especialmente, de minhas próprias vivências, meus sentimentos, reflexões sobre a vida e a sociedade. Meu conjunto de hábitos é escutar e ler pessoas inspiradoras, mas especialmente, viver a minha vida!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que a principal mudança foi o aprimoramento da escrita. Continuo a escrever sobre quase as mesmas coisas, porém com algumas diferenças na forma como as enxergo e as vivencio, hoje em dia. Diria para continuar no caminho que estou trilhando, porém ser mais segura sobre quem sou.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gostaria de ter uma parceria com Conceição Evaristo e que algum escrito meu fosse musicado por Luedji Luna ou Emicida. São mais sonhos do que projetos! Gostaria de ler meu segundo livro, que ainda não existe (risos).