Carla Andrade é poeta, jornalista e servidora pública.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou bem caótica nesse sentido, depende muito do dia. Demoro um pouco para me despertar e dar um sorriso (risos). Depois de tomar café, verifico os e-mails e começo a trabalhar, sou jornalista e servidora pública.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Quando houver o maior silêncio possível. Não tenho uma rotina diária de escrita, infelizmente. A vontade de escrever começa com uma imagem fixa e desconcertante na cabeça, que geralmente aparece à noite, às vezes durante uma insônia, ou em contemplações do cotidiano de pequenas coisas. Acabo anotando apenas a ideia em caderninhos espalhados pela casa. No dia seguinte à imagem ou semanas (risos) desenvolvo o poema com mais versos e imagens. É muito raro eu sentar em frente ao computador e desenvolver direto um poema, mas acontece. Acredito que o poeta é poeta durante o dia inteiro em suas observações: a natureza, a cidade, as pequenas cenas do cotidiano. Sua antena fica ligada o tempo todo, quando não está, ele se inspira com arte: música, leitura de outros poemas, filmes, por exemplo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não. Tem dias que pego os caderninhos com as frases de imagens bizarras ou que acho que são mais originais e faço um verdadeiro mosaico, remendo daqui e de lá. As frases que estão soltas ganham significados dentro de temas que gosto: filosóficos e intimistas ao mesmo tempo. Todos os dias falo que vou criar uma rotina ou tentar escrever um livro sobre um tema apenas, mas acabo sendo mais caótica e costurando vários estilos e ideias de acordo com a ordem cronológico das coisas que vivencio. Meus poemas tem um tom bem bem confessional, confesso (risos).
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depois de analisar os meus cadernos e reservar um tempo para isso, não é muito difícil começar. Fico empolgada e as coisas fluem. Mas tem tema que é mais forte, profundo, e acabo gastando muita energia com eles. Nesses, costumo travar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Com muitas cobranças. Leio praticamente autores contemporâneos de poesia e acabo comparando muito com o que estou produzindo. Se fico muito tempo sem lançar um livro novo, isso começa a me angustiar, mas depois aceito com mais leveza.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Mostro meu trabalho assim que escrevo. Sou ansiosa e acabo postando nas redes sociais. Quando compilo os poemas para a publicação de um livro, mostro para amigos poeta próximos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A pior, não nos entendemos. Sempre escrevo nos caderninhos e depois que está pronto, digito.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Como adoro poesia imagética, uma grande fonte de inspiração são exposições de arte e cinema. A conexão com a natureza, observação de coisas mínimas, meio nanuelismo, é a maior inspiração.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A experimentação. Comecei a ler muito os contemporâneos e fui brincando com a minha impressão digital e a deles. Diria: leia mais.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Nossa, biblioteca de Babel (risos). Hahahha. Gostaria de ler a minha biografia. Em relação a novos projetos, sonho em lançar livros em coletâneas de mulheres poetas que admiro.