Camila Dió é poeta, autora de “Não escrevo poemas de amor” (Penalux, 2020).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sinto que me desfaço durante a noite e passo a manhã recolhendo os pedaços de mim. Como não sou muito organizada, não costumo ter uma rotina fixa. Levanto, tomo café e levo um tempo para me restabelecer. Depois disso, me envolvo em outros tipos de atividades. Assim como escrevo, leio muita poesia. Gosto de fazer isso quando estou no meu melhor estado, mais desperta e com melhor capacidade de concentração. O que normalmente não ocorre pela manhã. Vez ou outra um milagre acontece e acordo com energia mental para escrever, fico satisfeita e sinto que ganhei o dia. Mas isso é raro, então durante esse horário prefiro fazer trabalhos que exijam menos dos meus neurônios.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Durante o final da tarde e à noite trabalho melhor, às vezes até de madrugada.
Sou uma criatura noturna. Não sei bem se é um ritual, mas se a minha escrivaninha estiver muito caótica, me incomoda. Então dou uma ajeitadinha antes de iniciar. E ela termina como no começo: Uma bagunça. Nem sempre trabalho ali, mas quando sim, normalmente é o que faço.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando determinei que transformaria meus escritos em meu primeiro livro, Não escrevo poemas de amor (Penalux 2020) e defini mais ou menos quando iria publicá-lo, visei escrever dois poemas por dia. De vez em quando conseguia cumprir essa meta ou extrapolava essa quantidade e ora não escrevia. Embora eu estivesse exigindo um bocado de mim, fui flexível quanto a isso e deu certo, isso em 2019. Em 2020 com a pandemia e praticamente não saindo de casa, escrevi freneticamente sem determinar um ritmo, com picos aleatórios de ação. Como eu gostaria de publicar ao menos um livro por ano e o deste está na editora (Quando versos gotejo, Penalux) e o de 2022 já iniciei no ano passado. Este ano, envolvida em várias atividades, mas adiantada quanto a esse desejo, estabeleci uma rotina de escrita mais condizente com a minha realidade no momento, determinando uma meta semanal modesta mas que é muito funcional.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita é meio caótico. Vou anotando ideias que vão surgindo a qualquer momento em cadernos, na lousa, no celular, no computador e no que estiver mais à mão. Quando não tenho nada em que trabalhar no momento, dou um jeito de induzir a inspiração. Para mim a escrita enquanto atividade criativa depende mais do exercício e da disposição do que de qualquer outra coisa. Normalmente não sinto dificuldade em começar, apenas quando passo longos períodos sem escrever. Migro com facilidade da pesquisa para a escrita, colho o que preciso e depois meto bronca.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sofro com tudo isso da minha própria maneira. E normalmente não interferem no meu ritmo de produção literária. Não trato esse tipo de escrita como uma obrigação, mesmo que eu tenha imposto isso a mim. Como não sou muito rígida com as minhas metas e aprendi a lidar com as coisas com certa tranquilidade, quando quero escrever e estou travada, talvez por falta de ideias ou de qualquer outra coisa, induzo a inspiração. Atualmente sou estudante de Letras mas na minha formação anterior, artes visuais, aprendi isso. Se um artista depender unicamente de momentos aleatórios de inspiração, morre de fome. De modo geral não costumo procrastinar para escrever e embora lide com o receio de não corresponder as expectativas dos outros, continuo escrevendo. Já a ansiedade é algo com o que convivo diariamente, se eu deixasse isso me atrapalhar muito, jamais escreveria.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Releio várias vezes. Enquanto o texto não for publicado continuo lendo e alterando coisas. Mostro meus textos para a minha família e amigos. Gosto muito de ouvir as pessoas e saber as interpretações e reflexões promovidas pela minha escrita e considero bem-vindas as críticas construtivas. Acho maravilhosa a percepção de que existem variados pontos de vista de acordo com a ótica de pessoas diferentes sobre um único texto. Ouvi-los é de uma riqueza inestimável.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu tinha um grande entrave com relação a tecnologia, mas precisei aprender a lidar e hoje sou inclusive bastante sujeita a ela, até mais do que eu gostaria. Principalmente nesse contexto de pandemia. Como autora de editora independente, preciso muito, por exemplo, para fazer a divulgação do meu trabalho. Para isso faço uso das redes sociais, principalmente o meu Instagram @camiladiopoemas. Comecei engatinhando e contei com a ajuda de vários amigos que me deram diversas dicas preciosas, mas a princípio era como os hominídeos diante a descoberta do fogo. Quanto a escrever de fato, escrevo em cadernos, folhas soltas, post its, na lousa, no computador e mais recentemente tenho me acostumado a usar o celular com esse objetivo. Às vezes escrevo sobre a mesma coisa em vários suportes, passando o conteúdo de um para outro.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Existem vários projetos que eu gostaria de realizar, como publicar crônicas. Com o tempo quem sabe? Não tenho tanta intimidade com esse gênero quanto tenho com a poesia. E se um livro que eu gostaria de ler não existir, pode apostar que tentarei fazê-lo. Então por hora prefiro manter o suspense!