Bruno Paulino é escritor, autor de “Pequenos Assombros” (2018).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente eu acordo e verifico o WhatsApp, daí leio noticias na internet. Depois escovo os dentes, faço o asseio matinal, tomo café e passo “um sonho pelo rosto” para atrasar o tempo, como recomendava o escritor Mia Couto. Isso feito começo minha maratona de dar aulas de literatura para adolescentes.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu sinto que trabalho melhor de madrugada. Sou amante da quietude. E na madrugada as palavras ficam todas disponíveis só para mim orquestra-las.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu não tenho nenhum tipo de meta ou planejamento, mas eu careço de ser inquietado por uma ideia para escrever, comovido por essa inquietação – ou angustia – necessito de parar e escrever. Eu acredito em inspiração. Escrever pra mim como ensina a regra de São Bento é fruto de oração e trabalho; ou melhor, de inspiração e trabalho.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O Rubem Braga dizia que escrevia de supetão como alguns instrumentistas tocam música de ouvido. Meu processo de escrita é meio de supetão também. Começo a escrever e vou fazendo arranjos, correções, cortes, e nisso enxugo o texto – tal qual uma lavadora de roupa nos rios de Alagoas, seguindo ao pé da letra o ensinamento do mestre Graciliano Ramos. Geralmente deixo o texto dormir um pouco na gaveta. Aí o revisito depois com o distanciamento do tempo que também me permite um afastamento emocional do texto. Feito isso só então consigo ver se ele tem realmente valor literário e aprumo estético.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
É natural se sentir angustiado e medroso ao escrever. Escrever é estafante. Por vezes a gramática oprime as ideias, a cabeça cansa, as costas doem, e o papel em branco nos impõe o desafio inclemente. Mas lutamos nessa luta vã, como diria o Drummond. Afinal, é isso que os escritores fazem: escrevem. E sim, essa dor de escrever nos proporciona o sublime prazer – indescritível – de saber que alguém se deleitou com aquilo que escrevemos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Revisito muito meus textos, mas não faço isso com um método preciso ou um número determinado de vezes, me deixo nortear pelo instinto: agora está bom e finalizo. Costumo mostrar meus escritos antes de serem publicados aos amigos. Escrever é uma atividade realmente muito solitária – e eu tento horror a solidão – por isso acabo compartilhando com os amigos antes de publicar, e assim torno essa atividade solitária em solidária, compartilhada.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu escrevo prosa no computador, ouvindo música e tomando café. Poesia eu rascunho num caderninho a mão, acho isso romântico, e num mundo sem o menor romantismo eu resisto em preservar esse hábito tão comezinho; o verso vem do nada e corro a escrevê-lo no papel – que pode até acabar numa lixeira. Mas, às vezes, só no papel cabe toda a vida.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
É engraçado, eu não sei de onde vem minhas ideias. A Clarice Lispector tinha curiosidade – quase obsessão – de saber o que vinha antes do pensamento. Para me manter criativo eu tento ler, ver filmes, viajar, tomar cerveja com os amigos e jogar videogame. Sou um observador da vida. Ninguém escreve uma história como a vida. Nem ninguém faz um poema como a vida faz. A vida é criativa, basta a gente observar.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu diria: paciência. E recomendaria com afinco: LEIA, LEIA, LEIA…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu tenho muitos projetos que não fiz. Quero escrever ainda outro livro de contos que explore o fantástico regionalista. Eu sou completamente apaixonado por causos, histórias do sertão, esse tipo de narrativa típico do interior do Brasil. Eu queria mesmo era ser um bom contador de historias de trancoso, de visagens. E, com certeza, eu queria ler uma história que fosse a sequência do livro Cem anos de Solidão, desde que também fosse escrita pelo Gabriel Garcia Márquez.