Bruno Lopez é escritor, ator e gestor comercial.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente, começo meu dia sem saber onde estou (risos). Não sou nada diurno, e gosto de dormir até acordar. Nem sempre é possível, afinal eu trabalho para uma empresa e tenho horários a cumprir, então, digamos que minha rotina é abrir os olhos, voltar a dormir, relutar contra isso, entender que tenho deveres a cumprir e eliminar o pensamento “E se eu não for?” da minha cabeça (dramas à parte, sou bem assim). Após isso, vou tomar banho, me arrumo e vou trabalhar. Tomo apenas um suco de couve ou chá pela manhã. Não gosto de conversar, ouvir músicas ou qualquer informação logo cedo (até meio dia é cedo para mim, risos). Falar também não é comigo em horários tão matutinos… Ok, meu humor não é o melhor quando acordo, mas logo melhoro, depois das 13h ou 14h. Não posso dizer que não tenho uma rotina diurna, mas ela é um pouco diferente de muita gente, considerando que não consigo produzir muito neste período.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sem sombra de dúvida, no período noturno. Minha produtividade aumenta muito após as 22h. São nas madrugadas que tenho grandes ideias e vontade de escrever. Além disso, como sou gerente comercial, meu celular não para nunca, então, é enquanto todos já se preparam para dormir e ninguém mais envia mensagens que eu relaxo e deixo tudo fluir.
Não costumo me preparar de um modo específico para começar a criar um texto. Normalmente eu me ajeito em frente ao computador e começo a escrever, depois eu vejo se o texto faz sentido, o importante é eu não perder nenhuma ideia. É curioso como sempre tenho muitas ideias durante o banho (mundo, desculpe-me se às vezes demoro demais, mas é porque está surgindo ideias, risos).
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Procuro escrever todos os dias, mas confesso que um dia ou outro não estou muito afim e deixo passar. Há dias também que os compromissos me consumem a ponto de não sobrar tempo para ler ou escrever. Faz parte da minha vida agitada, mas sempre que posso, e quase sempre acho um tempinho para isso, eu escrevo sim. Não estipulo uma meta em quantidade, mas sim em prática. Por exemplo, não me importo se eu escrever uma linha, dez ou mil, desde que eu escreva. Tudo que fazemos sempre, ganhamos habilidades e viramos especialistas. Se eu escrever todos os dias, provavelmente quando precisar fazer de improviso ou às pressas, saberei como fazer. Isso me ajuda com bloqueios criativos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Busco deixar o meu processo bem livre. Não tenho um método específico, mas em geral, costumo ter ideias no banho ou em algum momento em que estou relaxado, o que não é muito prático, pois não tenho como anotar, mas assim que posso, gravo aquela ideia para não esquecer. Às vezes, uma ideia fica guardada por meses, e lá um dia eu lembro de procurar, e então, alguma história nasce dali. Normalmente, quando penso em algum assunto, pesquiso brevemente sobre e já começo a escrever. Muitas vezes eu não corro pesquisar e escrevo assim mesmo. Quando finalizo a ideia ou o projeto, aí então sigo com minhas pesquisas mais aprofundadas. Se faz sentido, ótimo, se não faz, aprendo e utilizo como informação complementar, algumas vezes me obriga a desfazer contextos que não podem existir, porque não fiz a pesquisa antes, mas faz parte do meu jeito de criar. Não que eu entenda de tudo, mas eu gosto de escrever sobre o que já conheço um pouquinho, então isso facilita as coisas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Meu maior problema é a procrastinação. Não é por mal, mas ultimamente tenho participado de vários projetos ao mesmo tempo, então o que posso fazer depois, eu faço. Algumas coisas tem uma prioridade maior do que um texto que eu posso lançar a qualquer momento, por exemplo. Mas tirando isso, eu costumo dar conta dos prazos e lido bem com a escrita, afinal, o que nos dá prazer, sempre nos dedicamos um pouquinho mais. Referente à ansiedade, é algo que preciso trabalhar diariamente em vários quesitos de minha vida, mas para entregar projetos longos, isso não me aflige, trabalho com isso sem problemas.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Revisão é uma parte extremamente importante, e chata, na minha opinião. Amo escrever, mas não gosto muito de revisar. Sendo assim, faço uma ou duas vezes e repasso meu texto para alguém de confiança ler e corrigir. Tenho alguns amigos fiéis que sempre me ajudam com pitacos e dicas de correções. No caso do meu livro, contratei um revisor para que o trabalho ficasse mais completo e profissional. A visão de uma pessoa de fora é muito importante, pois como criador da obra, é natural que tudo aquilo fique viciado em sua mente e não note alguns erros ou desconexões.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu me dou super bem com a tecnologia. Não sou nada “cringe” em relação a isto. Amo escrever no bloco de notas do celular e em meu notebook. Raramente uso papel e caneta, a menos que seja um cartão para presente ou recadinhos. Tudo que escrevo é no digital. Até mesmo para leitura, me adaptei muito ao “kindle”, particularmente acho mais prático para viagens e leitura na cama (onde mais gosto e costumo ler). Creio que seja mais hábil, fácil, leve, rápido e eficaz. Eu gosto de opções e portabilidade, sendo assim, tudo que eu possa levar comigo ganha pontos. Mas é claro que eu amo os livros impressos. Nada substitui a sensação de segurar um livro em mãos, sentir o cheiro das páginas e decorar sua estantes com centenas deles. Um amor à parte para as capas duras e versões especiais.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Às vezes, vem de uma experiência, outras “do nada”. Mas acredito que nada vem “do nada”. Me inspiro em sentimentos e gente. Quando vejo uma cena, escuto algo, leio uma frase, imediatamente eu tento sentir aquilo de alguma maneira. Quando o faço, na hora me surgem ideias. Ouvir histórias e pessoas são minhas maiores fontes de criatividade. Os detalhes nascem de detalhes, então dou muita atenção ao que acontece ao meu redor, é aí que a inspiração aparece. Uma situação pode ser interessante apenas pelo modo como é contada.
Eu percebo que quando conto algo para alguém, por hábito, incremento e ilustro de várias maneiras os acontecimentos e todos param para ouvir. Porque eu acredito que nada é por acaso e tudo pode ser importante, então devemos valorizar nossas histórias.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu escrevia mais devagar e tinha a péssima mania de ir me corrigindo assim que colocava a ideia para fora. Isso fazia com que o processo não rendesse tanto, que eu perdesse a linha de raciocínio e me cansasse muito mais. Agora aprendi a soltar tudo que está na minha cabeça e depois eu volto arrumando e lapidando. Faz muito mais sentido e você não perde nada, muito pelo contrário. Além disso, minha habilidade de digitação melhorou muito. Sempre fui bom para digitar, mas com o hábito de escrever todos os dias, é impressionante como ficam os reflexos para escrever no computador e celular. Isso faz você produzir mais em menos tempo, e de alguma forma, acompanhar uma mente acelerada (e também lhe rende uma tendinite se não cuidar, risos e lágrimas).
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho alguns projetos em mente e alguns já começados. Sou desses que começa várias coisas ao mesmo tempo. Eu que lute para dar conta de tudo que me inspira. Estou escrevendo dois livros atualmente, um romance que se passa na Espanha e conta a história de um jovem intercambista que descobriu, através de uma paixonite, um grande esquema de corrupção que pode mudar a sua vida para sempre; e um livro com contos de personagens sobre o último final de semana em uma faculdade de artes que fechou após um assassinato em massa. Cada conto mostra a história de um personagem que participou do pior dia do alojamento estudantil.
Além disso, pretendo escrever uma peça para teatro musical já no segundo semestre de 2021 e tenho alguns projetos encaminhados para roteiros de curta metragens também.
Mas em relação à leitura, eu gostaria de ler algo que me oferecesse opções como leitor. Ainda não consegui elaborar, mas tenho uma ideia de como fazer. Quando digo opções, quero sugerir que o leitor possa opinar de alguma forma, dialogar com a personagem ou algo assim. Adoraria um projeto doido desses (risos).