Bruna Corrêa é escritora, publicitária e pesquisadora de narrativas femininas.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sinceramente, não gosto de seguir sempre a mesma rotina, mas geralmente começo meus dias tomando um café da manhã, vendo a paisagem pela janela ou me atualizando nas redes sociais e conversando com as pessoas, ou então lendo notícias, organizando o que preciso fazer no dia. Também gosto de separar alguns dias da semana para praticar atividades físicas pela manhã, é algo que sempre me fez muito bem e ajuda a manter a mente arejada e descansada.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Como me divido entre o trabalho com a publicidade e a literatura, vou focar na parte literária. Para escrever, o melhor momento para mim é durante a noite ou até pela madrugada. Gosto do silêncio e do escuro para escrever.
Geralmente, antes de colocar a mão na massa de fato, tento visualizar as cenas que estou prestes a escrever como se fosse um filme mental, além de buscar acessar os sentimentos que quero trazer, é quase uma meditação. Preciso ter claro o que vou contar para o papel antes de começar, ou então acabo me perdendo muito fácil no campo das ideias.
Depois, penso em músicas que poderiam me ajudar a acessar melhor esses sentimentos e ideias que estão marinando na minha mente. Coloco os fones de ouvido para silenciar o mundo exterior e aí sim, começo a escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Hoje a minha rotina me impede de escrever todos os dias. Tive que entender que cada pessoa tem uma necessidade, um ritmo e um jeito de trabalhar, o importante é ter consistência. Sendo assim, escrevo em períodos concentrados. Minha meta é escrever no mínimo 1.000 palavras sempre que consigo sentar para escrever. Às vezes consigo bem mais do que isso, mas outras vezes não. Faz parte.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O gatilho para uma história sempre parte de alguma cena que criei na minha cabeça, ou de algum sentimento, algo que eu vi, ouvi, sonhei. Depois, eu escrevo essa cena, mesmo que eu não saiba exatamente o que vai ser ou que futuramente eu apenas delete, mas é uma forma de reter essas ideias.
Depois, eu costumo ficar em um processo muito mental para que a história vá se formando e conforme os insights vão surgindo, vou anotando no celular, papel, canto do caderno, agenda ou que for. Geralmente esses insights surgem quando estou distraída, seja saindo para caminhar, correr no parque, vendo alguma série ou filme, observando algo na janela, alguma notícia ou algo assim. Se insisto demais em encontrar as respostas, a mente trava. Então essa distração de certa forma acaba sendo a minha melhor amiga.
E só então, parto para as pesquisas. Vou anotando tudo que for relevante ou interessante de forma que possa contribuir com a história. Durante esse processo, vou escrevendo capítulos de rascunho, cenas, sentimentos, essas coisas. É um jeito de me manter conectada com a história.
E aí entra a parte de criar as fichas de personagens, cenários, sentimentos e escaleta. Preciso minimamente saber de onde partir, mas não me cobro em ter todas as respostas logo de cara, pois muitas vezes elas se respondem durante o processo, e gosto de ser surpreendida pelas ideias.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Durante meus processos percebi que minhas travas eram causadas pelo cansaço mental. Vivemos um estilo de vida que exige muito da nossa mente e a ansiedade está sempre sugando a nossa energia de alguma forma. Quando travo, busco formas de relaxar, seja descansando, dando uma volta. Inclusive, em um desses momentos de trava saí para caminhar e acabei voltando com uma crônica. A questão é que é muito mais fácil produzir com a mente relaxada, mas infelizmente nem sempre o mundo ao nosso redor nos dará essa possibilidade e aí vai de cada um definir seus próprios limites.
Quanto ao medo, acredito que faz parte. Sempre que vamos fazer algo diferente e com um grande significado, vamos sentir medo. Ainda mais porque escrever é algo que demanda tempo e muita energia, além de muitas vezes ser bastante solitário. Então o medo estará presente e nessas horas, eu só fecho os olhos e vou com medo mesmo.
Aprendi que temos uma visão muito distorcida sobre nós mesmos, e às vezes a beleza que não conseguimos enxergar em nossos textos, outra pessoa enxergará e pode se identificar, ou caso contrário, isso fará com que a gente entenda onde podemos melhorar para os próximos. Busco pensar que estou sempre fazendo o meu melhor até agora. Depois, a gente nunca sabe.
Então na dúvida, só vai.
Deixando claro que não é simples. É uma vigia constante aprender a lidar com esses sentimentos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Sinceramente? Até eu cansar. Tem horas que o texto começa a pedir socorro para ser publicado (mepublicalogopeloamordedeus) e eu preciso deixar ele ir. Se der para fazer melhor? Será em um próximo.
Sempre mostro meus trabalhos para outras pessoas também. Tenho a sorte e o privilégio de contar com pessoas ao meu lado que estão dispostas a ler o que escrevo e opinar com sinceridade. Acredito que uma crítica construtiva e respeitosa é sempre uma forma de ampliar nossos horizontes, então confio meus textos a pessoas que não vão deixar de me dizer se eles estiverem uma porcaria.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Meus primeiros rascunhos sempre são escritos no computador. Minhas mãos não conseguem acompanhar a velocidade das minhas ideias quando estou rascunhando. Mas tenho um caderninho em que anoto ideias aleatórias, trechos e rabiscos. Essa parte gosto bastante de fazer à mão.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias surgem de momentos. É sempre quando ouço ou vejo algo que me chama atenção, dos pensamentos livres nos momentos em que saio para caminhar, de sentimentos que despertaram em mim ou sonhos.
Escrever é um ato de empatia e observação. Independente do gênero que você escreve.
Então além de observar as coisas ao seu redor, acredito na importância de observar a si mesmo. E para isso, é preciso estar presente.
Praticar atividade física, ter momentos de descanso, ler e observar são as formas que encontro para manter a criatividade ativa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que fiquei mais exigente comigo mesma. É aquela coisa: quanto mais você sabe, menos você sabe. E isso às vezes me assusta ao ponto de dar aquele medo e aquela ansiedade da pergunta anterior.
Em meus primeiros escritos eu me preocupava mais com a diversão e com o puro prazer de criar e inventar histórias. Depois, conforme eu recebia bons feedbacks das poucas pessoas que leram minhas primeiras histórias, comecei a me cobrar mais. Isso me travou bastante durante muito tempo.
Então, se eu pudesse dizer algo para aquela Bruna que começou a escrever com 13 anos, eu diria muito obrigada. Obrigada por permitir que nossos sonhos e que a nossa imaginação falassem mais alto. Diria que tudo aquilo que ela almejava, pensando que jamais aconteceria, está acontecendo. Seguimos escrevendo e aprendendo todos os dias.
Hoje, espero honrá-la, unir tudo o que estudei e aprendi com esses anos, mas sem esquecer de que processo algum tem graça se não nos divertirmos durante a jornada.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho alguns. Quero escrever um roteiro para uma HQ e também para games, gosto de explorar outros formatos na escrita.
E o livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe, é o meu. O livro que estou trabalhando no momento.