Blandina Franco é escritora de livros infantis e colecionadora de brinquedos e linhas de bordar.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Embora eu goste muito de escrever no período da manhã e me sinta muito mais inspirada nessa parte do dia, eu não tenho nenhuma rotina matinal para o trabalho. Meus dias começam cada um de um jeito, dependendo muito do trabalho em que estou envolvida e também do que está na agenda do meu filho de 8 anos, na verdade, a minha rotina matinal depende muito mais do meu filho do que da minha vontade.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor de manhã, mas não tenho um ritual de preparação, eu me sento na frente do computador e começo a escrever, depois reviso o que escrevi e reescrevo várias vezes. Isso quando é um trabalho já começado, daqueles que temos prazo para entregar. Quando é um trabalho fruto de uma inspiração fulminante, eu sento e escrevo sem nem perceber as horas e a história sai por inteiro, de uma vez.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta nem regra para escrever. Cada livro editado foi escrito de uma maneira. Alguns livros saem por inteiros de uma só vez, outros levam dias para serem finalizados. Eu escrevo livros para crianças e nesses livros nem sempre o texto é longo, o que dá mais trabalho na verdade é a ideia da história a se contar. Uma vez que a ideia da história esteja bem organizada na minha cabeça o ato de escrever é bem tranquilo e muitas vezes rápido.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo é bem simples: eu e Lollo temos uma ideia de história, a partir dessa ideia eu desenvolvo o texto e em seguida ou ao mesmo tempo que eu escrevo, o Lollo cria as ilustrações. Ou: eu e Lollo temos uma ideia de história, a partir dessa ideia o Lollo cria as ilustrações e em seguida ou ao mesmo tempo que ele ilustra, eu desenvolvo o texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrever pra mim não é só trabalho é também diversão, e talvez por achar isso tão divertido, não tenho muitas coisas chatas para lidar enquanto escrevo. E procrastinar faz parte do trabalho criativo, então é melhor assumir a procrastinação e respeitar o tempo de criar de cada um.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso meus textos até que a editora me diga que ele já vai pra gráfica e acho que mesmo depois de publicados eu descubro coisas a se corrigir neles. Nenhum texto meu sai do meu computador pra qualquer lugar sem que o Lollo leia antes, inclusive essa entrevista.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A maioria das vezes eu escrevo no computador, mas algumas coisas são anotadas em pequenos papeizinhos que ficam espalhados pela minha mesa e colados na parede do escritório como lembretes de coisas a se resolver na história. Mas se eu estou em um restaurante ou passeando com o Lollo, eu escrevo em qualquer papel que a gente tenha nas bolsas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Não tenho a menor certeza de que lugar as ideias vêm. Algumas devem vir de coisas que eu vejo, outras de conversas com o Lollo, outras ainda de coisas que acontecem com o nosso filho, mas a maioria das minhas ideias devem vir daquele lugar escondido na nossa cabeça que ninguém sabe bem onde fica, e que em algumas cabeças é mais bagunçado e cheio de gavetinhas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não sei se alguma coisa mudou na minha escrita. Talvez eu seja um pouco mais cuidadosa com as histórias que quero contar, e se eu voltasse aos meus primeiros textos, acho que não diria nada a mim mesma porque imagino que se eu mudar alguma coisa na minha escrita do passado acabaria afetando a minha escrita de hoje, como naquelas viagens no tempo em que a gente não pode encontrar com a gente no passado pra não explodir ou apagar nossos filhos da terra. Está tudo bem do jeito que está e do jeito que foi.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho um monte de projetos começados, então acho que não queria começar mais nenhum em especial. Acho que projeto bom é aquele que cai no nosso colo ou que pula de dentro da nossa cabeça pro papel sem a gente nem pensar nele antes. Não existem gavetas suficientes pra guardar todas as ideias que poderiam ser mas ainda não são porque eu não comecei a trabalhar nelas. E não tenho a menor ideia de que livro eu gostaria de ler e que ainda não existe e nem quero pensar nisso, porque se pensar, ele seria mais um projeto que eu ainda não comecei.