Bia E. Miller é escritora, autora de “Cartas Para James”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
A rotina ajuda muito na criatividade. Quando eu enfrento a procrastinação, costumo acordar antes da minha filha, aproveito para colocar os fones de ouvido com músicas mais tranquilas e no vol. máximo. rsrsrs Só quem é mãe sabe o perigo que é usar fone de ouvido com a filha acordada. Antes de levantar gosto de imaginar todas as coisas que quero viver e o que farei para alcançar o objetivo. Porque depois que minha filha acorda o meu tempo é praticamente todo dela.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu gosto muito de escrever de madrugada, tenho uma vista maravilhosa do meu quarto que me inspira demais e tem me ajudado muito com a procrastinação. Eu gosto sempre de ter um caderno dentro da bolsa, as ideias costumam aparecer quando menos espero. Como a madrugada é mais silenciosa, sinto que minha mente consegue ficar mais alta que qualquer coisa a minha volta. Então, eu sento e tudo flui. Eu ainda gosto de usar muito o Tumblr, o que me inspira demais quando estou sem ideias, as fotos, os vídeos, os textos etc… Às vezes, uma única palavra no meio de um texto me traz inspiração.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu já me prendi muito a metas diárias, o que é excelente, porque quanto mais escrevo, mais aprendo e me inspiro. Mas, ultimamente escrevo quando a vontade vem, mesmo assim não deixo de pesquisar sobre ou ver coisas que podem me trazer inspiração. Eu sempre recomendo isso quando alguém está triste porque não consegue mais escrever, nós não precisamos estar nos cobrando o tempo inteiro, isso pode ser perigoso, trazendo consequências como ansiedade, depressão, procrastinação etc. Nós precisamos tirar um tempo para o descanso da mente, muitas pessoas leem nossos textos, visitam nossos blogs em busca de abrigo e consolo, temos que entender que não somos só um poço de ajuda, uma hora nós vamos cansar de segurar a mão de todos a nossa volta e vamos precisar que segurem a nossa também. Uma meta diária é fazer do seu blog o mais profundo do seu ser, esquecer a quantidade de curtidas e a quantidade de comentários, isso nos faz travar e ficar frustrados, uma hora nossos textos vão chegando para as pessoas certas e isso é o que importa. Já recebi muitas mensagens de pessoas que não curtiam e não comentavam, essas pessoas tinham vergonha que outras pessoas soubessem o que elas estavam curtindo e comentando, mas eu sabia que meus textos tinham ajudado de uma certa forma aquelas pessoas, enquanto para muitos era “Não tem muita curtida e nem comentário”, na minha caixa de mensagem era: “Meu Deus! Obrigada pelo texto que você publicou, você me ajuda demais, você falou tudo o que estou sentindo”.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Nós temos uma imensa rede de pesquisa a nossa volta, mas sim, é difícil começar quando você sente que já está esgotado e é difícil saber a diferença se é a ansiedade, cansaço ou procrastinação. A melhor coisa que podemos fazer é descansar junto com nossos poemas, se nós escrevemos é porque temos muito o que dizer, e pensar cansa. Eu me sentia muito culpada quando passava dias sem escrever, hoje não mais. A pesquisa é boa para nos ajudar a manter a caixinha de ideias cheia enquanto descansamos, eu recomendo muito assistir músicas sempre legendadas, sempre tem uma palavra ou uma frase que não entendemos e muita das vezes acaba até virando piada na roda de amigos. Talvez aquela palavrinha que você cantou ou entendeu errado esse tempo todo é exatamente a que vai te ajudar a voltar a escrever no final das contas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu simplesmente aprendi a desligar meus pensamentos, consigo isso sempre? Não! Mas, eu tento. Um peso muito grande saiu das minhas costas quando eu parei de me cobrar algo que eu queria que o mundo desse, e é o que todos estamos em busca, que é a busca da aceitação. Nós queremos ser vistos, queremos saber que tem pessoas que sentem o mesmo que sentimos, que se identificam com nossos textos. Eu não tenho poder sobre o mundo, e muita das vezes nem sobre mim rsrsrs. Todo escritor quer que seus textos sejam lidos, curtidos, comentados e compartilhados. Eu estou trabalhando para terminar de editar o meu primeiro livro: Cartas Para James, eu acho engraçado que se a gente não focar no projeto, outros começam a aparecer, eu tenho várias pastas com nome dos meus futuros livros, dentro de cada pasta o início deles e as ideias que quero projetar neles. E é nesse momento que a procrastinação pode aparecer, muitas ideias e pouca concentração. Sempre digo para anotar tudo mesmo e não perder o foco no primeiro projeto.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Costumo dizer que a ansiedade é a pior inimiga, estou trabalhando nisso, pois é a ansiedade que me arrasta para a escuridão da procrastinação e eu acabo passando muito tempo sem publicar nada, isso não significa que não exista nada nos rascunhos ou rabiscos no caderno. Ser anônima durante muito tempo me ajudou demais, mas é impossível não ter amizade com seus leitores, eles acabam contando a vida deles porque sabe que você entende o que eles estão sentindo, o que pode ocasionar até em troca de redes sociais e WhatsApp. O engraçado é que depois que eles descobriram quem eu era, tudo o que eu postava eu recebia mensagens perguntando se eu estava bem. Nem sempre eu escrevia o que estava sentindo, muitas vezes o texto era algo sobre alguém que estava passando por um momento difícil ou precisando ouvir. Já cheguei a mandar textos, poemas e contos para as amigas, e repito várias vezes que estou enviando porque confio nelas e preciso de uma opinião sincera. Deixo muitos textos descansando por um tempo, até me sentir pronta para encarar eles novamente.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Uma vez eu estava carregando um doc. no celular e não podia abrir o rascunho. Como estava em um restaurante pedi ao garçom a caneta dele e escrevi tudo no guardanapo, quando cheguei em casa passei tudo para o papel. (Oh desespero! Mas deu tudo certo no final rsrs.) Eu gosto muito de escrever no notebook, porque eu escrevo muito rápido e no notebook posso editar tudo na velocidade do pensamento.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu gosto sempre de ler livros ou qualquer coisa com marcador de texto, tem sempre uma palavra ou frase que desperta em mim muitas ideias. Então, toda vez que vou ler procuro sempre ter um caderno ou papel do lado e grifar todas as palavras dos livros. Nas páginas do meu caderno eu coloco um título: “Palavras para frases e textos”, e através daquelas opções eu escrevo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu gostaria de dizer que eu não precisava me preocupar tanto com o que as pessoas vão pensar, e que eu ficasse calma que tudo acontece no tempo que tem que acontecer. Que eu estivesse pronta para correr contra o tempo, porque a ansiedade roubou muito tempo de mim. A minha visão sobre a vida mudou muito e meus textos seguiram esse cronograma. Que todo mundo erra, que todo mundo coloca vírgula no lugar errado, que mesmo aprendendo muitas palavras difíceis procurasse sempre usar as mais fáceis, o importante não é se mostrar inteligente, o importante é que o texto esteja claro para que possa alcançar o coração de qualquer pessoa que fosse ler.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muitos projetos guardados, muitas ideias, até mapas sobre os livros que quero terminar de escrever.
O meu livro Cartas Para James. rsrs No momento ele existe só no meu OneDrive rsrs e cada pedacinho dele eu publico nas redes socias para ficar um gostinho de quero mais. Ele com certeza é o livro que eu compraria novamente, mesmo já tendo na estante.