Beth Brait Alvim é poeta, escritora e atriz, autora de “A febre e a mariposa” (Patuá, 2018).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não. Não gosto de rotinas. Gosto de simplesmente agir (ou não) conforme meus impulsos. Nestes tempos, só vale o pulsar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Hoje em dia o dia me abriga mais do que a noite. Sem rituais específicos. Na verdade o ritual está na minha vida o tempo todo. A vida é rito.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não. Escrevo com alguma meta, digamos, quando me pedem, por obrigação ou compromisso, mas só quando dentro de mim o texto explode. Se não explode e tenho prazos, reescrevo, recrio. E, daí, quase sempre, a poesia começa a revolver minhas entranhas e explode.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Minha pesquisa é no decorrer da explosão, se for necessária. Quase sempre, como disse, o poema explode, me toma, me impulsiona e possui. Para os prefácios ou ensaios sempre pesquiso, teço uma rede de proximidades e contextos para melhor atingir o âmago do tema. Mas, se um poema, como foi com o livro que escrevi em junho de 2021, em 14 dias, coisa que nunca ocorre comigo, deseja tocar um pico, uma montanha, e onírica, daí pesquisei. Não sei bem como. O poema se chama A Lua de Orizaba. Nele, minha imagem obsessiva foi o Pico de Orizaba, México.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho medo de nada. Só do fascismo. Medo não, horror.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Há poemas de trinta anos que reviso até hoje. Tenho acreditado, porém, nos textos que explodem, como eu disse, e nestes não mexo.
Não gosto de pedir a alguém, por mais próximo que seja, que chancele ou opine sobre minha obra. Considero isso um fardo para o receptor. É preciso se expor, assumir -se como poeta, e pronto. Um livro ruim, um poema que não cause nada, e disto o mercado e as redes estão repletos, não merece um livro, uma leitura, quanto mais a atenção de algum parecerista. Sei quando me exponho, sei que me exponho e as consequências são minhas. Raramente recebi chancela sobre uma obra a ser publicada. Quando isso ocorreu, foi por vontade de quem se manifestou.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Desde que dominei o mouse, sempre ao computador. Minha relação é de malemolência, não suporto deter essas ferramentas e ficar me promovendo. Quando o faço, é com o mínimo de domínio, e o máximo de intuição.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sempre digo: escrevo porque não suporto. De onde vem o que escrevo? Nem imagino, e gosto de não saber, porque muitas vezes explodem imagens que realmente não as tinha visto em mim ou no mundo. E isso me interessa. Cultivo o desvario, o não linear, o não literal, o não lógico.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Diria: para de ser autocrítica. Mudou minha percepção de ouvir a outra voz, de assumir o desregramento dos sentidos de Rimbaud, de abraçar o discurso poético de Octavio Paz, do explodir do poema em sua essência anterior à escrita. Escrevo sem rédeas. Com rédeas, só se me imponho essa condição, como fiz com alguns sonetos (na acepção da palavra e da forma) criados na pandemia. Forma perfeita, mas subversão da imagem poética.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Talvez cantar mais meus poemas. Mas já comecei.
Não sei.