Babi Lacerda é escritora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
O meu dia começa na loucura, eu diria! Acordo todos os dias às 5:30 da manhã, cuido do café da manhã, tanto dos humanos que aqui habitam como das minhas três gatas, feito isso, vou checar os afazeres daquele dia e começo a trabalhar naquilo, geralmente umas 8 horas da manhã, alternando entre alguns serviços de casa, almoço e assim vai.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu gosto muito da parte da manhã, é o melhor horário para mim, apesar de rende bem durante a tarde. No período da noite me considero imprestável para qualquer coisa que não seja ler ou assistir um filme/série.
Não tenho um ritual para começar a escrever, apenas preciso de silêncio mesmo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu tenho uma meta diária de 2500 palavras, às vezes passo um pouco, às vezes não bato a meta, mas apenas em situações extremas que isso acontece, uma emergência mesmo. Escrevo todos os dias, eu acho que o escritor que tem isso como única profissão, não deve ficar romantizando o processo e esperar a tal da inspiração, os planetas se alinharem, o segundo sol chegar kkkkkk tem que sentar e escrever.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tudo depende da história. Já escrevi contos sem planejamento algum e já escrevi contos onde meu escritório parecia uma sala de investigação das que vemos em filmes, lousa, post-it pra lá, post-it pra cá. Começar sempre acaba sendo um pouco mais difícil para mim, pois gosto de trazer um primeiro capítulo ou um prólogo que agarre o leitor pelo pescoço e o faça querer ler “só mais um pouquinho”, até ele notar que já chegou na metade do livro, rs. Em relação as pesquisas, também vai depender, quando escrevi meu romance policial Crisalida de Sangue, antes de iniciar, fiz um curso de perícia criminal e estive em contato com dois investigadores, depois disso, escrevi. Já meu livro novo, eu fui pesquisando conforme escrevia, já que a temática é bem diferente. Tem autor que se perde nas pesquisas ou acaba usando elas como desculpa para “nunca começar”, é importante sabermos certinho sobre o que vamos escrever, a verossimilhança, ter cuidado com discursos de ódio mascarados, mas se você não está escrevendo uma apostila ou sobre um assunto muito delicado, dá para conciliar a pesquisa e a escrita simultaneamente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando travo vou ler ou assistir algo que seja do mesmo gênero que eu esteja escrevendo. A procrastinação aprendi a lidar melhor esse ano, se eu não produzo, não ganho, se não ganho, não pago boletos, rs. Quando somos nossos próprios chefes, temos que realmente nos planejar e produzir com frequência, é aquela coisa de responsabilidade consigo mesmo. Já sobre não corresponder às expectativas, esse medo sempre me ronda, mas acho que aprendi a lidar bem com ele, nunca vou agradar todos os leitores e quando você entende e aceita isso, fica mais leve. Em relação a ansiedade, tem dias que é punk, mas eu sou a louca das datas e prazos, afinal, preciso entregar algo para alguém muito importante, eu mesma kkkkkkk, uma coisa que acabo fazendo é já agendar com os profissionais que vão cuidar da edição e revisão, hoje eu tenho uma boa noção de quanto tempo levarei para escrever um livro, então, já deixo tudo agendado, o que me força a terminar até aquela data, e claro, umas gotinhas de rivotril sempre ajudam (apenas com prescrição médica).
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu faço pelo menos umas 4 leituras depois de pronto e só então envio para edição e revisão. Sou editora de textos e isso me dá uma visão um pouco mais técnica em relação ao meu texto, o que me ajuda a lapidar a cada releitura. Tenho leitoras betas, que vão lendo conforme estou escrevendo e recomendo demais que todo autor tenha leitores betas. É você ter uma visão do leitor, receber sugestões que fazem toda a diferença e poder entregar uma história o melhor possível.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tudo no computador e celular se eu não estiver em casa! Amo a tecnologia. Tenho um grupo no whatsapp só comigo, se uma ideia aparece e eu estou na fila do mercado, mando áudio para mim mesma e pronto! O segredo é não deixar passar nenhuma.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Nada se cria, tudo se copia, não é mesmo? Nem sempre. Cuidado com plágio, a frase é apenas para dizer que somos repletos de inspirações e referências. Todo gênero tem o seu clichê, no terror, sempre caímos em casas assombradas, serial killer mascarado matando jovens, canibais e assim por diante. No romance romântico, sempre temos um casal que se odeia, ou namoradinhos da adolescência que se reencontram, o amadurecimento dos personagens, são “receitinhas de bolo”, mas podemos e devemos experimentar coisas novas a partir delas. Eu me bombardeio de leituras e audiovisual para me ajudar, mas também volto ao passado e acabo usando muitas situações pessoais para compor minhas histórias, ou de amigos, parentes. Se você for criativo, um vizinho chato pode acabar rendendo uma comédia, temos como exemplo o filme Duplex, rs.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Muita coisa, muita coisa mesmo. Ao longo dos anos, fiz muitos cursos, li bastante livros voltados para isso e meus textos amadureceram consideravelmente. Se eu pudesse voltar no dia em que escrevi minha primeira história que publiquei, meu conselho para mim mesma não seria sobre a escrita em si, mas sim sobre algumas pessoas que compõe o mercado literário, diria para eu ter cuidado e não perder tempo com alguns grupinhos fechados e bem tóxicos de autores.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu próximo livro, que vai ser uma comédia romântica, essa resposta vale para as duas perguntas!