Axel Guedes é escritor, fundador da Mundo Escrito.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sim, tenho uma rotina matinal. Antes de começar qualquer outra atividade, faço aproximadamente uma hora de meditação iogue – pratico Kriya Yoga e outras técnicas da Yoga que me ajudam a, digamos, situar-me dentro de mim mesmo. Depois da meditação, quase sempre com bem mais facilidade, consigo planejar e realizar minhas atividades no decorrer do dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Em relação às minhas atividades como pequeno empresário na Mundo Escrito, trabalho melhor na parte da manhã. Por isso, esse não é o meu melhor turno para escrever, pois preciso conciliar a escrita com outras atividades.
Mas sempre faço anotações do que precisarei escrever até o fim do dia; anoto também o que venho refletindo sobre algum assunto que estou amadurecendo em mente. Registro as boas ideias, no decorrer do dia ou da noite, para evitar perdê-las.
O melhor horário para me dedicar à escrita é à noite, quando consigo colher os resultados das minhas reflexões e, então, sopesar sobre o que já posso escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não adoto um hábito rígido nesse sentido. Uso os dois sistemas para conseguir encaixar a escrita em minha vida. Se tenho algo urgente a escrever e disponho de tempo, aproveito-o para esse fim. Se não é urgente, posso aguardar um momento mais oportuno.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Esta é uma boa pergunta. Vejo muita gente dizer que, antes de escrever, pesquisa bastante. Eu faço exatamente o contrário. Primeiro eu anoto meus próprios pensamentos; só depois é que escrevo, quando já refleti e esgotei tudo o que sei de importante sobre o assunto. Dessa forma, posso compor um texto com estrutura totalmente original, sem ser influenciado por qualquer outro.
Então, depois que escrevi, pesquiso, acrescentando os dados e informações adicionais, que deixarão o texto completo, original e adequado ao meu público.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Algumas vezes as travas podem até significar bons presságios. Se não estamos indo bem de uma forma, talvez uma pequena mudança altere completamente o rumo das coisas.
Acabamos de realizar uma série com 9 vídeos, intitulada “Perguntas e respostas avançadas sobre Escrita Criativa”. Esse projeto surgiu justamente num momento em que eu pensava e pensava, sem êxito na decisão de que tipo de postagens faríamos no Blog da Mundo Escrito nas próximas semanas.
Muitas vezes, quando alguma coisa trava comigo, costumo ver outras opções. Eu precisava elaborar algumas perguntas para o Rubens Marchioni, autor do livro Escrita Criativa. Então, como estava sem boas perguntas para fazer, aproveitei o contato que já tinha de outros escritores e solicitei que eles fizessem as suas próprias perguntas, para que o Marchioni os respondesse. Dessa forma, o projeto ficou muito mais rico, porque as perguntas foram elaboradas por escritores que já tinham livros publicados e com títulos em importantes concursos de literatura.
Outro exemplo. Iniciei a escrita de um livro há mais ou menos 2 anos. Só escrevi 9 páginas e, por fim, acabei deixando-o de quarentena – até que eu sinta que o livro me será realmente importante.
Um projeto deve se encaixar bem em nossa vida; mas precisamos criar os encaixes. Em outras palavras, antes de começar um projeto, é preciso se perguntar: ele foi feito para mim?
É verdade que há momentos em que é preciso se desdobrar para conseguir empreender. Entretanto, rente à energia empreendedora, sempre devemos encontrar motivos; do contrário, não valerão a pena grandes esforços. Esta é a única forma que conheço para enfrentar a procrastinação, a ansiedade ou qualquer outra trava.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Só paro de escrever um texto quando consigo ver nele, claramente embutida no formato apropriado para o meu público, a mensagem que eu quero transmitir. Então, recorro ao revisor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Só escrevo à mão na falta de um dispositivo eletrônico. Inclusive considero o gravador do celular mais prático para guardar as minhas ideias. Mas nada deve substituir um bloco de notas e uma caneta: seja no claro ou no escuro, elas estão sempre prontas para nos servir.
Entretanto, no momento da produção dos textos, utilizo sempre um desktop. Não me entendo muito bem com as teclas dos smartphones, são muito pequenas. Meu editor de texto preferido é o Word (da Microsoft). Digito com rapidez, sem deixar escapar nenhuma boa frase que me salta à mente.
Às vezes, quando abro o arquivo para continuar uma escrita, se vejo que há uma tendência de o texto sofrer mudanças drásticas, imediatamente salvo o arquivo com outro nome e mantenho o texto original intacto. Dessa forma, não corro o risco de perder ideias anteriores.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minha maior fonte de criatividade, como já disse, é a meditação iogue que faço diariamente. De vez em quando tenho insights no decorrer do dia ou desenvolvo trabalhos de criação por experimentos.
Para me manter criativo, busco inspiração de diversas formas, já que hoje é fácil dispormos de vídeos, imagens, documentos e tudo que pudermos imaginar. Posso ler textos e ouvir músicas de diferentes culturas ou de uma cultura específica. A observação de mundo também me serve como grande fonte de inspiração.
Gosto muito de observar os sotaques das diferentes regiões do nosso País – antes mesmo do advento da democratização da Internet. Sempre que vejo uma formação de frase diferente daquelas consideradas comuns, procuro entendê-la o mais completamente que me seja possível. Segundo os linguistas, nada na língua acontece por acaso, pois, intuitivamente, os falantes de cada região seguem um sistema de lógica (histórico, social etc.) ao se expressarem por meio da fala ou da escrita.
Dizem que o nosso cérebro faz de tudo para poupar energia. Então, sempre que possível, ele sugere que adotemos determinados hábitos. Aí começa todo o problema contra a criatividade. Na busca de economizar energia, movemo-nos por hábitos. Assim, fica mais difícil colocarmos o nosso cérebro para funcionar. Por isso, o conselho é que procuremos fazer coisas diferentes todos os dias, a fim de desenvolvermos a capacidade criativa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
É escrevendo e apagando que tentamos delinear a forma real de cada pensamento que vai virando letra. Cada fase da vida nos deixa marcas indeléveis e particulares. Talvez, o que tem mudado em meu processo de escrita seja o meu desejo de tomar consciência daquilo que realmente sou diante de tudo o que vejo.
Rebuscar a minha consciência é minha forma de tentar melhorar o que escrevo, desde os primeiros experimentos. Não é uma questão de cortar ou de acrescentar textos. O negócio é fazer o texto dizer o que precisa ser dito – e bem dito.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Como já disse mais acima, um projeto que até comecei – mas já engavetei (por tempo indeterminado) – foi a escrita de um livro. Tenho a história (o que escrever), agora só falta executar (o como escrever). Estou exatamente no meio, entre “o que escrever” e o “como escrever”. Por isso, o livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe é o meu (risos).