Ariadne Lima é atriz, poeta e artista multisciplinar.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Geralmente sou mais sensível ao acordar, por isso muitas vezes acordo inspirada para escrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto que trabalho melhor quando a maioria das pessoas ainda está dormindo. Funciono muito bem pela manhãzinha e também de madrugada.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não me obrigo a escrever todos os dias e minha escrita sempre parte de sentimentos ou intuições. Até a lua interfere no meu modo de criação e produção.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como já citei anteriormente sou muito intuitiva. Preciso do silêncio e o encontro quando a maioria dorme. Meu processo é aquático e bem molhado e é raro o dia em que o chuveiro não me auxilia na criação de um poema, mas quando o banho não vira poesia sinto que está tudo bem também.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Aceito e acolho todas as travas, bloqueios, procrastinações e as uso em beneficio próprio. Se passo um tempo sem escrever um poema que eu considere bom começo a refletir sobre essas questões e quando dou por mim estou com um texto vivo, verdadeiro e carregado de reflexões…
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso mil vezes (com a mentira e tudo rsss) e a cada revisão mudo uma vírgula, um ponto até deixar no ponto que quero. Peço ajuda para uma professora de língua portuguesa quando acho necessário.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Apesar de ser uma colecionadora de máquinas de escrever eu geralmente escrevo no bloco de notas do celular. Meu livro POES IA…NU PORÃO, por exemplo, foi todo escrito no aparelho de telefone e depois foi organizado no computador.
Gosto de escrever à mão, mas fiz do bloco de notas um dos meus melhores amigos.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Elas vêm de tudo o que vivo, tateio, leio, percebo…
Costumo dizer que crio no caos. Até tenho um cantinho de escrita todo organizado e decorado, mas a verdade é que escrevo quando sinto que preciso vomitar palavras.
Muitas vezes me vejo entalada por dentro e só fico bem depois que consigo escrever um poema sobre o assunto que está me consumindo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ao longo dos anos eu mudei muito. Na verdade sou uma “metamorfose ambulante” e minha escrita vai me acompanhando em todos os meus processos internos.
Antes eu era um pouco ingênua no sentido de “dar pérolas aos porcos” e hoje tenho uns textos que gosto muito e que ainda não publiquei nas redes e nem vou publicar, porque penso em escrever outros livros.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho um projeto daqueles em que escrevemos dois livros em um, saca?
POES-IA MOLHADA e POES-IA A SECO.
Seria a primeira metade do livro dedicado a poemas molhados, gostosos, orgásticos, escorregadios, flutuantes e deliciosos.
Já o segundo livro dentro do livro começaria depois que terminassem os poemas do primeiro. Teríamos que virar o livro de trás pra frente para prosseguirmos com a leitura.
O título estaria nas duas capas. Em uma estaria escrito POES IA MOLHADA e na outra POES IA A SECO.
No espaço dedicado aos poemas mais pesados, daqueles que dão um soco bem no meio do nosso estômago penso em ressaltar a dualidade que existe na essência de todo ser humano.
Deve já existir, mas eu ainda não li um livro assim, que ao mesmo tempo que nos mostrasse toda a beleza da poesia nos revelasse também toda a sua crueldade.