Anna Carolina Ribeiro é escritora, autora de “Lua em Escorpião: versos sobre desejos profundos” (Penalux, 2021).

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Quando escrevo prosa longa, gosto de escrever diariamente por um tempo determinado. Não me importa muito se vão sair poucas palavras ou não. O importante pra mim é deixar algumas horas separadas pra pensar no texto e mexer nele. Paralelamente a estes projetos maiores, faço pontualmente exercícios de escrita e me proponho a criar contos ou crônicas e deixo a poesia surgir e trabalho nela quando ela vem. Então, tenho vários projetos acontecendo ao mesmo tempo, mas nunca de uma forma muito organizada, exceto no caso da prosa longa.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Deixar fluir é o único meio de trabalhar com a escrita pra mim, embora eu me proponha a escrever prosa longa diariamente, por exemplo. Escrever a primeira frase é sempre um desafio, porque fico com vontade de cativar leitores à primeira linha, então sempre penso mais profundamente nela. Já as últimas frases costumam vir bem naturalmente.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Escrevo diariamente e prefiro ambientes silenciosos, mas não preciso de total ausência de som. Inclusive, gosto de escrever ouvindo música. Posso escrever em qualquer lugar, mas isso depende mais da minha disponibilidade pra concentração do que do lugar em si.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Não sou muito de procrastinar, mas acho que é porque eu me proponho a escrever e escrevo, sem julgar o que vem. Deixo sempre a autocrítica pra quando o texto estiver pronto. Acho que nunca tive o tal bloqueio criativo, provavelmente porque pra mim escrever é exercício, como yoga – que também é parte da minha vida – eu simplesmente faço e deixo o resultado vir sem muita expectativa.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Acho que, até agora, o romance em que estou trabalhando atualmente é o texto que mais me deu trabalho. Como ele partiu de outros textos já prontos, precisei fazer com que eles fossem mais harmoniosos entre si pra formar uma peça só. Tive que reescrever cada um deles e repensar muitos aspectos tomando decisões difíceis.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Os temas vem até mim com naturalidade. A ideia praticamente se desenvolve por conta própria e eu só ponho no papel o que vai aparecendo. Editar depois é um outro trabalho, bem diferente mas complementar a essa parte mais criativa. Pra ser sincera, minha leitora ideal sou eu mesma. Costumo escrever histórias e poesias que gostaria de ler mas ainda não tive a chance de ver.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Quando tudo parece coerente eu compartilho com leitores beta. Normalmente, escolho para primeiros leitores pessoas que se encaixam no suposto “público alvo” da história, para ouvir justamente a opinião dessas pessoas. Independente disso, normalmente minha irmã é uma das primeiras leitoras de todas as minhas publicações importantes.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Não consigo estabelecer o ponto exato, mas de alguma forma, querer escrever sempre esteve em mim. Me dedicar à escrita foi só uma consequência de um desejo sempre em ebulição no meu peito. Se eu pudesse dizer algo à Anna Carolina escritora iniciante, diria a ela que não precisa ter medo de mostrar o que escreve para o mundo. Alguém sempre vai gostar e achar importante aquele texto.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Não sei se tenho um estilo próprio definido. Creio que alterno muito entre estilos e formas de escrever, e não sei se quero, conscientemente, me prender a alguma definição. Escritores diferentes me influenciaram em áreas diferentes, mas minhas amigas escritoras deixam em mim uma impressão muito forte que transforma minha escrita.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Ultimamente, acho uma leitura essencial o “Quando as Árvores Morrem” da Tatiana Lazzarotto.
* Entrevista publicada em 10 de julho de 2022.