Angela Ramalho é escritora e editora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Até precisaria ter, mas depois que abri a editora, não tenho feito outra coisa, além de livros. Me dedico quase que exclusivamente às tarefas de edição. Começo o dia lendo e respondendo e-mails e dependendo dos assuntos contidos, já começo a anotar as prioridades. São originais para ler, contratos a digitar, pedidos de orçamentos, respostas às provas de diagramação e capas, solicitações da gráfica para aprovação de arquivos, enfim, o dia é sempre curto para tantas demandas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
De manhã sempre acordo mais disposta, mas tenho um bom pique a qualquer hora do dia. Pelo fato de estar envolvida com edição, tenho escrito pouco. Mas quando escrevo, não sigo rituais. O que conta mesmo é a intuição. Se algo me inquieta ou me instiga, é dali que tiro leite de pedra.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Em relação a escrita, sou de fases. Há fases em que a coisa flui (ou não flui). Tem dias em que escrevo de forma constante, mas já cheguei a ficar 45 dias sem escrever. Não traço metas. Espero o insight ocorrer, naturalmente.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Quando compilo algo, normalmente já tenho em mente o que quero escrever. As vezes nem anoto. Leio, assimilo o aspecto que quero focar e passo a registrar minha ideia. Não acho difícil. Passo rapidamente de uma etapa a outra. Tenho facilidade com leitura dinâmica.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não tenho nenhuma dessas neuras. Medo é uma palavra que aboli do meu dicionário. Tudo o que se relaciona à escrita, encaro com prazer. Às expectativas são dos outros, não minhas. E projetos, curtos ou longos, não me causam ansiedade. Me organizo, sento e faço. Simples assim.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Nunca considero um texto pronto! Quando escrevo, costumo respeitar o que me veio por inspiração e mudo pouca coisa, mas se acontece de ler aquele mesmo texto algum tempo depois, não só reviso, como mudo versos, excluo uns, acrescento outros, muitas vezes até descaracterizando o texto original. Se mostro? Escancaro! Faço e solto nas redes sociais.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Já acordei as 3h da manhã com uma ideia na cabeça, abri o computador, registrei, salvei e voltei a dormir. Uso direto o computador. Tenho pouca coisa manuscrito.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sou observadora. Vejo as coisas na rua, no supermercado, no ponto de ônibus, no caixa eletrônico, na padaria. Na hora só presto atenção. Se me dão espaço, o papo corre solto. Depois, em casa, registro. Do cotidiano sempre surge um texto interessante.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O meu processo de escrita evoluiu, mas não foi uma coisa à parte. Eu evoluí com ele. Sou objetiva demais para raciocinar sobre hipóteses. “Se eu pudesse voltar ao tempo” é uma fala que não me atrai. Eu lido com possibilidades reais e essa possibilidade não existe. Nem penso nisso. Não posso e nem quero voltar no tempo. Meu tempo é hoje.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu leio livros que não existem todos os dias, pois quando recebo os originais, aquele material é apenas uma possibilidade de edição. O que eu espero de cada original é que ele me surpreenda. Quanto à projetos, essa história de “ainda não começou” não é para mim. Gosto de colocar “a mão na massa”. E por ser atuante, acabo “abarcando o mundo com as pernas” e o que pode acontecer é atrasar o andamento de um ou outro. Mas concluo! Atualmente, além da editora e dos meus livros, estou envolvida em 03 projetos literários e todos me prendem, me cativam, porque quando faço algo, dou o melhor de mim, sempre.