Anderson Horizonte é escritor, autor de “Rios de Lembranças”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Ainda na cama, às 6 horas, assim que o celular desperta, eu tenho o hábito de sorrir, isso mesmo; sorrir, como sendo o meu primeiro ato do dia, eu me despreguiço sorrindo, ainda no quarto escuro. Com esse gesto, eu demonstro gratidão por acordar e viver. Preparo o café da família – ovos, panqueca, iogurte, bisnaguinha, leite… -, já que saímos todos no mesmo horário; a filha vai à escola, a esposa irá iniciar as atividades em home-office, e eu vou ao trabalho na cidade vizinha. Ah, não é justo eu romantizar esse momento, já que em meio às panquecas e ovos, tem muito “Giovannaaa, já se levantou? Já escovou os dentes, já penteou o cabelo??? – filhaaa se levanta, nós vamos nos atrasar”. Muitas vezes, só no portão da escola, me lembro que minha filha iria precisar de sua mochila que ficou na cozinha de casa, rsrs…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sinto que as ideias surgem ao longo do dia, mas à noite é sempre um bom período para a escrita. Não tenho rituais que precedem a escrita, mas se possível, sempre vou me dirigir a um local tranquilo, silencioso ou vazio.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Só não escrevo todos os dias porquê uma ou outra vez a inspiração falta ou a imaginação ‘falha’… Nos ‘dias de glória’ escrevo ao longo de todo o dia, muitas vezes as palavras e ideias surgem sim, em períodos concentrados, o que não ajuda muito se você não souber o que ‘dispensar’.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu sigo os lampejos da minha imaginação. Sigo a intuição. Geralmente um tema me chama a atenção. Às vezes uma frase é o gatilho. Começar é fácil, o problema no meu processo de escrita é que muitas vezes o que era pra ser um romance, vira um conto. O que era conto vira crônica. A crônica vira um poema ou frase… A pesquisa, em meu caso, só se faz presente para romances, onde muito provavelmente irei pesquisar; História e Geografia, quase sempre é isso… e Português, é claro!!!
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Certa vez eu li algo sobre ‘o privilégio do anonimato’ e um dos pontos positivos de não ser um Best-seller é justamente ‘poder fechar seu notebook’ quando não estiver inspirado. É poder errar. Arriscar. Experimentar… Sou um ‘entusiasta da vida’ não me cobro sobre o próximo e o próximo trabalho. Também, não exijo validação do meu trabalho, pois o faço com minha alma e coração. Se vai ou não acertar o outro, aí é outra história. Só me certifico de que fiz algo ‘bem feito’. E, quando a procrastinação me bate a porta, eu a recebo e a convido a assistir um filme… muito provavelmente, durante o filme ela se sentirá traída pois eu vou conseguir um ‘start’ ou um ‘gatilho’ durante ‘a sessão da tarde’. Quando se respeita os limites e as necessidades do corpo ou da mente tudo flui melhor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Poesias, crônicas e textos curtos são revisados de um modo mais rápido e dinâmico. Tento ao máximo já criá-los praticamente com as palavras e estruturas que serão publicados. Já romances e contos exigem mais atenção, dedicação e tempo. Lembrando: como não me considero um escritor profissional, contrato serviço de uma revisora, formada na USP, para publicações de romances.
Não mostro meus trabalhos (À minha esposa e, filha, eu comento sobre a ideia central do romance e um ou outro ponto que sinto que irá aguçar o interesse delas, mas quero que as duas sejam surpreendidas, ao final da obra, com uma leitura inédita). Eu não tenho leitor beta… Na verdade, antes de lançar ‘Rios de Lembranças’ meu romance de estreia, eu nem sabia o que era um leitor beta. A validação do que escrevo quem dá é minha intuição. Leitores Beta são fantásticos, possuem um vasto ‘know-how’, são super importantes, sim. Mas minha intuição/teimosia – talvez – não os deixa entrar, rsrs, não tem jeito, ela me diz: ‘agora somos apenas nós dois’. Esse discurso não é pra soar prepotente, por favor. Sou apenas um aventureiro, despretensioso, que dá ouvidos aos gritos internos. Escrever, mesmo que um romance publicado internacionalmente, como foi o caso do meu livro, foi e, é para mim; brincadeira, diversão e descobertas, ao menos por enquanto. Se amanhã eu pensar diferente, eu agirei, também, diferente.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha relação com a tecnologia poderia e deveria ser melhor, já que existem muitos bons recursos para escrita e organização desta.
Meus primeiros rascunhos são, hoje em dia, no bloco de notas do celular, mas ainda escrevo muita coisa em pedaços de papeis… não tem jeito, você tem que estar preparado. Então, do bloco de notas do smartphone, envio o texto à minha caixa de e-mail, de lá ele vai para o word, muito provavelmente a conclusão do texto, da crônica ou do romance, se dará à noite. Se acharmos – eu e minha intuição – que o texto ficou bom; ele será publicado em meu site – www.andersonhorizonte.com -, indo também para uma lista de amigos leitores… se eu achar que a obra não é lá uma ‘obra’ assim; o texto ficará engavetado, podendo sofrer alterações ou aguardar seu fim, trágico, junto à troca do aparelho celular.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Não há hora ou lugar para uma ideia, um lampejo de intuição… Se ouço uma conversa, um bom papo, se leio um livro, vejo um filme, ouço uma bela canção… lá vem ela, sim, minha imaginação. Ela me toca os ombros e diz: “hey, tá esperando o quê? Abra o bloco de notas do celular – ou escreva atrás dessa Certidão registrada em Cartório, mesmo -, que lá vem história”. Aos meus olhos um bom hábito para aflorar criatividade é estar em contato com as histórias de outras pessoas, coisas do dia a dia mesmo, livros e… ‘procrastinação’, ela mesma. No ócio residem e surgem boas ideias, e elas nos são lançadas assim do nada, muitas vezes quando estamos ‘fazendo nada’!!!
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Com a chegada da minha filha percebi que mudei boa parte do conteúdo produzido, também, a forma de fazê-lo. Tento ao máximo dedicar muitooo do meu tempo a ela, pois o tempo é o que tenho de mais valioso. Então, desde sua chegada, preciso ‘comprar tempo’ para a escrita, logo meu processo ficou mais ‘limitado’. Se eu me encontrasse com o Anderson Horizonte dos primeiros textos, primeiro eu iria lhe agradecer, elogiar e apoiar, pois ele foi o ‘primeiro passo’ ele foi o ‘começo de tudo’. Mas também lhe puxaria as orelhas por ter escrito alguns textos usando ‘pq’, ‘vc’ e aproveitaria pra tirar um sarro das composições musicais meio ‘emo’ que ele criava, rsrs, brincadeira. O Anderson dos primeiros textos, está, ainda hoje, aqui… muitos dos meus textos atuais, carregam os mesmos sentimentos daquele menino.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Talvez me aventurar como roteirista de esquetes de humor. Já que minhas poucas crônicas humoristas me rendem, até hoje, ótimas críticas. Tenho, também, um projeto – livro – de uma trilogia, mas que envolve muita pesquisa sobre diferentes séculos e diferentes locais. Eu até dei um ‘start’ mas a procrastinação me bateu a porta – pra assistir mais um filme -, terminamos foi assistindo uma série que, com dezenas de temporadas, ainda não terminamos de maratonar, rsrs. Esse seria, também, o livro que eu gostaria de ler e ainda não existe… quem sabe a procrastinação se encha de ‘comer pipoca comigo’ e vá ao cinema com algum Best-seller estrangeiro.