Ana Fátima é escritora, autora de Tunde e as aves misteriosas.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia saudando meu ori, minha cabeça, pedindo boa energias e pensamentos. Faço um exercício de respiração ou alongamento..depois vou trabalhar na escola, ou se fico em casa, procuro ver o que programei pro dia. Ah! Meu café da manhã é sagrado…tem que ter.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor pela manhã. Geralmente, quando separo uma meta de escrita, reservo das 10h às 12h para escrever ou pesquisar. À tarde, das 15h às 17h. Também são horários que a mente ferve de ideias.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita literária diária e sim, mensal. Em um mês, devo fazer uma resenha, um comentário sobre alguma obra lida e fazer um poema ou conto no mês. Não tem data definida, mas deve existir esse movimento criativo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tenho cadernos…sempre tive cadernos de escrita desde a infância. Tem o de poemas, o de contos, o de contos infantis e um para o futuro romance. A pesquisa intuitiva. A partir dos insites vou pesquisando, anotando nos respectivos cadernos e depois vira um texto concreto. Após revisado, digito e guardo no pendrive para futuros trabalhos. Por isso, sempre tenho algo pronto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Geralmente não tenho travas de escrita. Enfrentei isto aos 15 anos quando comecei a me preparar pro vestibular, já que “ser escritora não é profissão”, é o que diziam. Então travei, bloqueei a criação. E agora na pandemia do covid em 2020, também passei dias sem pensar em nada. Mas aí fui escrever sobre meu dia a dia com minha família e a criatividade voltou.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Geralmente, reviso os textos duas vezes antes de publicar. Os contos sempre mostro para três escritoras ou escritores de minha confiança e meu esposo. Os virginianos são ótimos em críticas alinhadas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Os temas para os textos têm inspiração no cotidiano, seja em ações positivas ou ações que desejo mudar, sugerir melhoras através da palavra literária. Para mim, literatura cura, traz leveza, uma motivação a alma. Ler posturas positivas me ajuda a criar e assim desejo aos leitores.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ao longo dos anos fui respeitando meu modo de criar a partir da afetividade. Mesmo a dor, pode ser falada de forma suave e a regenerar, não dilacerar. Mas melhorei as metáforas e o poeta Lande Onawale me ajudou muito no uso das figuras de linguagem. Com Lívia Natália aprendi a encarar minha linguagem do cotidiano com leveza, e com Akins Kinte, passei a colocar mais musicalidade no que escrevo. Hoje, eu diria para a Ana Fátima de ontem, ter mais confiança nas imagens que penso e viram histórias: confiar no próprio talento ainda é um desafio a crianças negras e isso segue pra fase adulta em diferentes aspectos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não tem nada que eu não tenha começado, mesmo que não publicado. O romance e o livro de contos são os próximos passos. E gostaria de ler mais livros, romances ou contos que trouxessem uma imagem histórica e bonita de nossos ancestrais africanos no Brasil como o fez Ana Maria Gonçalves em “Um Defeito de Cor”. Deveria ter mais histórias para enobrecer a alma negra no Brasil que é genocida, racista e com baixo incentivo financeiro à arte.