Alvaro Posselt é poeta.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Em relação à escrita, meu trabalho é bem aleatório e nada disciplinado. Projetos podem surgir a partir de um poema, um verso, uma frase solta. Os poemas podem surgir enquanto trabalho, atravesso a rua, tomo banho ou quando vou dormir.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Deixo tudo fluir. Às vezes o mais difícil é dar nome ao livro. Mas já aconteceu o contrário. O nome surgiu e a partir disso comecei a produzir direcionado pelo tema.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Não tenho rotina, os poemas geralmente surgem sem hora marcada. Esses acabam sendo os melhores. Não preciso de silêncio, mas ele é sempre bem-vindo.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Faz tempo que isso não acontece, pelo contrário, estou produzindo mais. No entanto, quando fico travado, busco leituras diversas, assisto a filmes mais voltados à arte, ouço música clássica e ópera.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
O que dá mais trabalho é selecionar os poemas para o livro. Muitas vezes você tem 70, 80% dos poemas já selecionados, e o restante fica brigando para ver quem vai entrar na seleção.
Gosto muito do livro Kaki e seu processo editorial. A seleção dos poemas ficou bem harmônica, capa bem representativa, ilustrações levíssimas, diagramação serena. Enfim, meu preferido.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
No caso dos haicais, os temas são as estações, mas também há temas sobre gatos, insetos, bichinhos. Meu leitor ideal são os que leem antes de publicar, mas também me distancio como escritor para analisar meus escritos como leitor.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Com a maturidade de vida e de escrita, sempre fico à vontade para mostrar meus rascunhos. Minha companheira lê tudo em primeira mão e sempre faz críticas certeiras. Também tenho um amigo escritor que lê o material antes da publicação.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Escrevo desde adolescente, no entanto já na casa dos quarenta é que comecei a pensar em publicação. De forma geral, as pessoas te aplaudem quando você começa a mostrar seus escritos, uma maneira bem legal de incentivo, no entanto você precisa ouvir a voz não só do entusiasmo, mas da crítica. Isso nunca me faltou e acolho bem esse ponto de vista.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Curiosamente me descobri fazendo humor e isso foi e é uma grande escola. Não fiquei preso a clichês e trocadilhos, e assim fui me descobrindo. Os autores me influenciam no sentido de mostrar que você pode ir além, que pode se permitir, ousar, e cada autor te influencia nessas medidas.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Estou lendo Cem anos de solidão, do Gabriel Garcia Márquez e sem dúvida é um dos melhores livros escritos no mundo. Que história! Que riqueza de linguagem! Essa obra é uma escola completa para qualquer escritor.