Almandrade é poeta, crítico, artista visual e arquiteto.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Normalmente como minha produção gira entre a literatura e as artes visuais, eu começo o dia lendo alguma coisa, depois no meu atelier um projeto de pintura, desenho ou anotações para uma escrita, um poema ou um texto crítico. Claro cheio de dúvidas antes de uma decisão.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Depende o momento, a demanda. Qualquer hora do dia é um trampolim para me lançar na iniciativa de um texto ou um trabalho visual. A meu ver, o poeta vive em um canteiro de obras, escrever depende de leituras e releituras de outros autores para iniciar um projeto, um pequeno poema, por exemplo. O meu ritual é fazer inúmeras anotações e rascunhos antes começar o texto propriamente dito.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Em períodos concentrados, mas de forma muito lenta, não tenho uma meta diária, a não ser, quando tenho um compromisso de conclusão.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Difícil começar, são muitas as interrogações. Primeiramente rascunhos, escritos e reescritos até achar uma opção para formatar uma ideia, um conceito.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Primeiro eu escrevo para mim mesmo, a exigência é maior, mesmo em projetos curtos. Tenho muita ansiedade em concluir, é sempre um enfrentamento. Difícil. Mas a facilidade é uma armadilha.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu reviso várias vezes e não me livro de pequenos erros. Eu gosto de mostrar a outra pessoa antes de publicar para uma revisão e verificar meus equívocos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu escrevo a mão, “à moda antiga”, não consigo pensar no computador. Só depois de um esboço, um direcionamento na escrita, eu enfrento o computador. Tenho dificuldade com tecnologia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm de leituras de textos alheios, da observação da natureza, da vontade de acrescentar alguma coisa ao mundo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Hoje sou meio pessimista com o texto, estamos em um dos piores momentos da humanidade, cada dia menos leitores, a banalidade se espalha. A tecnologia não avançou o homem com relação ao pensamento. – Gostaria de voltar aos primeiros textos para reescrever.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Não sei, queria ter mais tempo para mais leituras e menos os problemas da sobrevivência cotidiana. Na adolescência li bastante, hoje menos. Nosso tempo é sequestrado, nossa privacidade invadida por redes sociais e informações que não levam a reflexão.