Alexandra Maia é poeta e produtora, autora de “Um objeto cortante”, entre outros.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho muita dificuldade de escrever de manhã. Sou muito lenta nas manhãs. Então começo o dia resolvendo coisas práticas, e só depois que o cérebro esquentou, sento pra escrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
No mundo ideal, começo escrevendo três páginas de caderno, tamanho médio. Escrevo qualquer coisa que passe pela minha cabeça. Pode ser um sonho, uma briga, um encontro, uma lista, memória, receio. Pode ter tom de terapia, desabafo, piada, ou só contar um momento feliz. Sem receita. Serve para soltar a mão, para perder o medo de escrever, como aquecer o corpo antes do esporte. Adoro esta prática, para mim, libertadora.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Adoraria ter uma meta. Posso passar meses sem escrever, se estiver num momento muito acelerado, desconectado. Mas, se tenho meu espaço interno e externo, gosto de sentar para escrever todos os dias, nem que seja por uma hora.
Ano passado, me impus o desafio de escrever no mínimo um poema por dia. Foi ótimo escrever como exercício, escrever sem tentar acertar. Escrever pra treinar, como os atletas. Gol só de vez em quando. Antes, muito treino. Escrever pra cortar. Escrever pra jogar fora.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Escrevo poemas em cadernos que vou completando e guardando. E essa é a parte da escrita que mais me encanta, quando estou povoada pelas palavras e elas pedem pra sair. É o momento de emoção, quando a emoção flui moldando a ideia em palavras.
Posso demorar muito tempo a voltar nesses cadernos. E quase sempre me surpreendo com o que encontro. Parecem escritos por outra pessoa. Isto me faz ter certo distanciamento do que escrevi. Quando pego os cadernos, passo os poemas para o computador e depois, mexo, corto (muito), burilo até ir para o lixo ou ganhar peso para eventualmente ser publicado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Hoje, lido com as travas da escrita me obrigando a escrever…. desterrei meu crítico interior (não a autocrítica), aquele censor que mata uma ideia mal ela aparece, dizendo “que porcaria!”. Para soltar as travas, para matar o medo que enrijece, uso as três páginas escritas de forma livre, para lembrar que escrever é ter ideias, é liberdade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso os poemas milhares de vezes até chegar à forma final. Leio, releio, leio em voz alta. Mostro para alguns amigos quando tenho dúvida. Tão bom ter um amigo interlocutor, poder conversar conversar sobre o fazer poético.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Cultivo o hábito (e não é fácil) de estar viva, atenta. Creio que a chama da criatividade se mantém quando estamos nos sentindo desafiados, apaixonados. Entusiasmados, de estar com o deus dentro, deus da criação. Creio que a criatividade vem do desejo. Então posso dizer que os livros me fazem mais viva, os filmes, alguns momentos me inspiram. Minhas ideias vêm do meu dia a dia, do jornal que me atropela, do outro ao meu lado.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu diria: Experimente mais e não tenha medo de errar. Faça. Divirta-se. E não se leve tão à sério.