Alex Xavier é jornalista, cineasta e autor do livro O Teatro da Rotina.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu até tenho, na minha cabeça, um plano ideal do que eu deveria fazer ao acordar, que inclui preparar um café da manhã reforçado e fazer exercícios. Algo que sigo raramente. Em geral, não consigo dormir cedo, invado a madrugada e, mesmo não acordando tarde, levanto na última hora para meus compromissos, improviso a primeira refeição e prometo a mim mesmo que, pelo menos, vou me alongar um pouco no dia seguinte. Sou jornalista freelancer. Então, meus horários de trabalho variam muito, interferindo em qualquer tentativa de me programar para seguir um roteiro diário.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu luto contra isso, mas a verdade é que eu rendo muito à noite. Quase sempre gasto o dia com o ganha-pão, as matérias jornalísticas. Mas isso não é desculpa. Mesmo quando estou tranquilo e tenho o dia para me dedicar a um texto meu, acabo embalando mesmo quando deveria me preparar para dormir. Se me empolgo com aquilo, vou embora, apostando horas contra mim mesmo, como um viciado em jogo em um cassino. “A sorte está do meu lado, não posso sair agora, só mais uma rodada”. Quando vejo, os pássaros estão cantando e a luz do sol começa a entrar. Não acontece só uma vez ou outra. É muito comum.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando eu tinha doze anos e comentei com os adultos que poderia ser jornalista, conheci um veterano da área. Ele me disse para escrever todo dia, sobre qualquer coisa, até mesmo sobre não ter assunto para escrever. Também me disse para ler um jornal por dia, uma revista por semana e um livro por mês. Eu tentei por um tempo curto seguir isso à risca, mas não rolou porque eu achava que não ficava bom o suficiente para mim mesmo. Hoje, eu entendo que não era para sair nada genial dali. Pelo contrário, era para exercitar o erro mesmo, pensar em queimar 99% daquilo. Há uns dez anos, quando voltei a me dedicar um pouco mais à ficção, peguei todas as ideias que anotei por muito tempo em uma gaveta mental sob a etiqueta “dá um conto” e fui acumulando textos. A maioria são vergonhosos, medíocres, mas isso me fez não temer o erro e minha escrita se tornou mais fácil. Não preciso ser o Veríssimo e publicar uma crônica magnífica por dia. Posso me dar ao luxo de jogar porcarias assumidas no lixo ou guardar um texto para ser reciclado algum dia. Hoje, não escrevo todo dia sempre, mas durante determinados períodos, mergulho naquilo todos os dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sempre que me interesso por um tema e vejo uma história ali, começo a pesquisar sobre aquilo descontroladamente. Tem a ver com o jornalista em mim. Nunca serei especialista no assunto da reportagem, mas durante aqueles dias de apuração, quero ser capaz de dar uma palestra sobre aquilo – nem que seja para amigos em uma mesa de bar. O resultado é que acabo utilizando muito pouco do tanto que pesquisei – e depois de pronto não vou me lembrar de mais nada. Mas se me servir para um parágrafo que seja já me dou por feliz. Então, gasto um bom tempo nesse processo de estudo meio estranho, sem um objetivo claro. E começo a escrever por pura necessidade. Estou ainda lendo um PDF de estudos acadêmicos sobre a formação de fungos ou abrindo dezenas de abas da página da NASA sobre o programa de colonização de Marte e algo que leio me dá a ideia de como começar. Crio esse parágrafo inicial só para tirar o branco da página. Sei que ainda vou reescrevê-lo muitas vezes. Mas depois que ele ficar palatável, eu embalo no restante do texto sem me preocupar muito com estrutura ou a ortografia. Quero apenas contar a história até o fim. Se eu tenho muita dificuldade para finalizar isso e paro na metade é porque talvez eu não tivesse uma história e nunca terei a partir dali. Descarto. Quando termino, porém, esqueço de lado um pouco. Vou mexer de novo, várias vezes, a partir do dia seguinte.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Seja em textos jornalísticos ou nos de ficção, minha trava é começar. Aquele primeiro parágrafo emperra o processo na maioria das vezes. Mas não chega a ser traumático para mim, pois estou tão ciente de que isso vai acontecer que até já absorvi ao processo. Sei que vou engatar uma quinta após passar por esse trecho congestionado. De qualquer forma, acho que funciono bem com prazos. É uma praga do jornalismo, viver sob pressão. Correr contra o relógio me torna bastante produtivo. Então acho bom me propor um “deadline” mesmo quando ninguém está esperando pelo texto. Nas oficinas, funciono muito bem com as propostas de exercícios para aula seguinte. Claro, ainda não tive a experiência de escrever um projeto longo. Preciso descobrir um método de trabalho mais eficaz, como criar uma escaleta antes de me propor a escrever e estipular um momento do dia dedicado a isso. Mas acho que a ideia de se dar um prazo pode funcionar nesse caso também, até para dividir as “entregas” por capítulo. Sobre corresponder às expectativas, há dois fatores. O primeiro é não ser você a pessoa que vai alimentar essas expectativas. Começou um projeto novo? Ele ainda não interessa a mais ninguém. Então não saia divulgando o que nem existe. O segundo ponto é abraçar a crítica negativa. Não escrevemos apenas para satisfazer a nós mesmos – o ego precisa ser respeitado, mas não manda na gente o tempo todo. A opinião das pessoas em quem confiamos é importante no processo de criação de uma obra. Eu gosto muito de ouvir as pessoas do Discórdia, o coletivo literário do qual faço parte, e espero que sempre apontem o que posso melhorar – nem sou obrigado a acatar todas as críticas, mas ter visões contrárias faz bem. Como jornalista, nunca considerei meu texto intocável. Pelo contrário, adoro que exista um editor para fazer o advogado do diabo. Sei que só tenho a ganhar com cada novo olhar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depois de cuspir uma primeira versão e deixá-la de lado, maturando, volto ao texto várias vezes com diferentes olhares. Talvez eu queira fazer mais uma pesquisa, testar outras vozes, alterar a ordem de parágrafos. Vou reler em voz alta e mudar tudo que me faz engasgar. Dar para outras pessoas lerem é essencial. Os outros vão achar detalhes que você não tinha notado. Desde frases que só fazem sentido na sua cabeça até pontos positivos que não te chamavam a atenção antes, mas que podem te motivar até a explorar um ângulo diferente. De repente, bate uma vontade imensa de mudar de fase e decido não tocar mais naquele texto nem se minha vida dependesse disso. A gente precisa de desintoxicar, colocar um ponto final. O autor vai sempre querer mudar algo no seu texto, mesmo depois de impresso. Mas chega um momento em que ele tem que desapegar e aceitar que aquele texto já não é mais seu, mas do leitor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Em geral, vou direto para o computador. Mas depende de onde estou. Já escrevi um conto inteiro durante um voo de avião, em um caderno, rasurando tanto que, na hora de passar a limpo, nem eu entendia o que estava escrito. E comecei outro em guardanapos de papel em um bar. Uma vez, morando no exterior, perdi meu caderno de viagem cheio de contos, crônicas, notas e desenhos em um ônibus. Lamentei por um tempo, mas agora me valeu a ideia para o conto que fecha meu livro, Teatro da Rotina. Uma vez, aguardando uma consulta médica por umas duas horas, escrevi um conto no corpo do e-mail, brigando com o teclado do meu celular, que é bem vagabundo. Também tentei carregar um gravador e registrar durante o dia, onde quer que eu estivesse, frases e ideias. Talvez por ser jornalista e odiar transcrever entrevistas gravadas, não me adaptei. No fim, vai tudo para o computador, que é onde desenvolvo de verdade os textos. É muito cômodo, não dá para evitar. Seria lindo bancar o autor old school, que ainda usa uma máquina de datilografar, por exemplo. Mas quem eu quero enganar? O computador entrou na minha vida na faculdade e ficou. Temos uma relação conflituosa, porém, dependo totalmente dele.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Esse é o tema do primeiro conto de O Teatro da Rotina. Ele é narrado por uma mosca metida a musa que entra pelo ouvido de um escritor e começa a dar ideias para ele, um monte delas, a maioria ruim. E de onde veio essa chama? Dos amigos que diziam que eu tinha ideia para histórias o tempo todo e de qualquer situação. Do meu desespero ao começar a trabalhar em uma história e ser atropelado por ideias de outra, deixando ambas inacabadas. Da minha tentativa desastrosa de organizar minhas ideias em cadernetas de anotações. Da mosca que de fato invadiu meu apartamento um dia e não saía de perto de mim. De Kafka e sua metamorfose. Do conto de um colega do meu coletivo, sobre um homem que dizia ter um rato no cérebro. Tudo isso e mais um pouco. Ideias surgem aos montes, em qualquer situação. No banho, muitas. Não significam que são boas e não têm dono. Elas chegam para muitas cabeças ao mesmo tempo em vários lugares. O que fazemos a partir delas é mais importante. Gosto quando, no coletivo, instigamos uns aos outros a algum exercício literário. Todos partem de uma mesma provocação e voltam com textos completamente diferentes. Notícias de jornal vivem me dando ideias. Também ouço conversas de terceiros na rua o tempo todo. Ler outros autores e sugá-los um pouco ajuda sempre a construir o próprio quebra-cabeça. No meu livro, eu me “aproprio” de dois textos, ambos citados. Um conto se passa durante a encenação de uma peça do Mario Benedetti. Outro, colide com Se um passageiro numa noite de inverno, do Italo Calvino. A receita era deles, mas eu fiz o meu bolo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu diria para não ser tão esquemático e deixar o leitor tirar suas próprias conclusões. Meus textos eram construídos de uma forma pragmática, como se eu fosse obrigado a seguir uma estrutura padrão. Coloque aqui o primeiro parágrafo, aqui você desenvolve o personagem, aqui uma reviravolta, agora conclui. Era como preencher um formulário. Demorei um bom tempo para me permitir experimentar e as oficinas de escrita criativa me trouxeram isso. A forma como passei a escrever os diálogos, por exemplo, mudou muito. Eu aboli travessões, aspas e qualquer referência ao autor da fala e causei uma certa confusão, na qual o leitor pode se perguntar até se a frase foi dita ou não e por quem. Também procurei me livrar do Alex jornalista, que quer encher o texto de informação e deixar tudo muito explicadinho. Essas transformações são naturais. Na verdade, não diria para o Alex mais jovem mudar uma linha do seu texto. Deixaria que cometesse os mesmos erros.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Planejo partir para uma narrativa mais longa. Na verdade, já iniciei e estou pronto para jogar tudo fora e começar de novo. Ela será fragmentada e se passará ao longo de milênios, mas o tempo terá uma percepção própria para o protagonista, um ser não-humano. Ela mistura gêneros literários, absorve personagens reais e fatos históricos, usa até poesia, que não é meu forte, tudo para falar do efeito que temos uns sobre os outros sem nem nos darmos conta. Já um livro que eu gostaria de ler mostraria um protagonista oculto, um que o leitor demora a perceber que faz parte de tudo que está sendo narrado. Um livro daqueles que algum crítico taxaria de ser “impossível de transpor para o cinema”. Mentira, toda a adaptação é possível.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Poderia me fingir de organizado e dizer que sigo um método de trabalho específico. Mas não sou assim como jornalista e, com certeza, menos ainda como escritor. Cada projeto ganha vida própria de um jeito. Acho isso bom porque eu também não sou a mesma pessoa que começou o projeto anterior e minha escrita também pode mudar (assumo que seja evoluir). Quando comecei a escrever O Teatro da Rotina, eu não sabia que estava começando um projeto de livro. Produzia diversos contos sem me preocupar em juntá-los e só depois percebi que, por trás daquelas histórias, havia um interesse em trabalhar com a normalização do absurdo e personagens que não largam suas vidas cotidianas, não importa se o mundo está acabando, se seus planos são interrompidos por algum elemento fantástico, se são levadas a cenários diferentes. Perceber isso me fez compreender pela primeira vez que eu estava trabalhando em um livro e, a partir daí, descartei contos que não tinham esse perfil e escrevi novos com tal pegada. Ou seja, se houve algum planejamento, ele surgiu com o projeto em andamento. Já meu próximo livro, que deve sair em 2021, tudo foi planejado desde o início. Eu queria aproveitar minha experiência de mais de duas décadas como jornalista e pensei em explorar o universo das redações. Os contos se organizariam de um modo que lembrasse a leitura de um jornal, passando por política, esporte, cultura, polícia, negócios e outras editorias. Assim, eu poderia emular a linguagem, o formato e os temas de cada seção. Seria uma forma de brincar com ficção e realidade em uma época na qual as pessoas duvidam dos fatos enquanto difundem fake news como verdade. Ter esse foco em mente foi útil na hora de pensar qual história me interessaria contar e a abordagem que eu daria a ela. Sabe-se lá como vou dar início ao meu projeto seguinte. Sobre o que é mais difícil, se a primeira ou a última frase, diria que é a primeira. Há muitas formas de se terminar um texto – e você decide onde quer chegar durante o caminho. Por sua vez, o início é um só e não saio do lugar antes de encontrá-lo.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu até começo desenvolvendo vários projetos ao mesmo tempo. Mas um deles sempre se sobressai e eu coloco os demais na geladeira. Para tocar simultaneamente, ou é trabalho – uma obrigação da qual não posso me dar ao luxo de postergar (porque os prazos não dependem de mim e preciso pagar os boletos) – ou é algo bem diferente. Nesse distópico 2020, por exemplo, enquanto tocava o novo livro de contos, não me senti instigado escrever sobre a pandemia, apesar de aparecerem muitas chamadas de publicações nesse sentido. Mas voltei a desenhar e criei uma série de histórias em quadrinhos sobre o isolamento e publiquei os rascunhos em meu instagram (@alexsussa). Minha semana de trabalho como escritor de contos não segue uma agenda rígida. Em geral, escrevo quando me dá vontade e sem hora para parar, pois, se me empolgo com um texto, vou até o fim. A reescrita é um pouco mais organizada. Deixo o texto cuspido de lado por um tempo e volto a ele no dia seguinte, com um olhar mais crítico. Releio fazendo correções e alterações, leio alto, peço para outras pessoas lerem e opinarem. E reescrevo mais uma vez. Porém, tenho pretensão de escrever um romance e quero ser mais organizado, fazer pesquisas, imaginar uma forma de escaleta como guia, seguir horários de trabalho e estabelecer prazos. Pode ser que eu mude tudo na execução, mas ainda seria um bom empurrão para começar.
O que motiva você como escritor? Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita?
O que mais me motiva a escrever é complementar ao que sempre me motivou a ler. Eu quero contar histórias que cada leitor possa se apropriar delas e criar versões únicas na sua cabeça. Adoro cinema. Mas, por mais que um filme possa ter infinitas interpretações, muito do que o espectador processa já é dado mastigado a ele pelas imagens sugeridas pelo diretor e sua equipe. São ângulos, enquadramentos e movimentos de câmera, figurinos, cenários, jogo de cena, música, efeitos visuais e sonoros, as escolhas da edição, a interpretação do elenco, um excesso de informações sensoriais que me permite apenas me deslumbrar com o espetáculo. Um livro (ainda que seja ilustrado), tira o leitor da passividade por se apoiar no texto. E estimular que as pessoas recriem a sua maneira uma história me empolga bastante. Se, algum dia, um texto meu for adaptado para outra mídia, espero descobrir algo totalmente novo. Seria frustrante ver na tela ou no palco uma transposição fiel daquilo que imaginei ao escrever. Significaria que não consegui atingir o leitor. Desde a infância, eu gosto de escrever. Mas demorei um bom tempo para me enxergar como escritor. A escrita sempre me acompanhou, tanto que enveredei no Jornalismo. Já a escrita de ficção me pegou além das redações de escola justamente quando pensava em me dedicar ao cinema. Eu queria ser roteirista e criava histórias pensando em transformá-las em filmes. Algumas eu desenvolvia no formato de roteiro, outras como contos. E só quando passei a publicar alguns desses contos em um blog, por volta de 2008, cogitei ser escritor.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Acho que a primeira dificuldade que eu tive foi me desvencilhar dos vícios do texto jornalístico. Após anos procurando ser conciso, preciso, informativo, obedecendo certas estruturas e tomando cuidado para evitar repetições, metáforas e subjetividade, foi necessário passar por um exorcismo para deixar meu texto mais solto. Por outro lado, se há algo do jornalista que gosto de preservar no escritor de ficção é a apuração. Mesmo quando não vou usar a informações no texto, gosto de pesquisar certos assuntos, pois isso pode me inspirar algo. Em O Teatro da Rotina, há um conto sobre uma pizza esquecida em um forno por dias. Estudar um pouco sobre fungos me inspirou a contar a história do ponto de vista deles e me levou a escolher a primeira pessoa do plural, nós, como a voz do narrador, já que falo sobre seres que só funcionam como comunidade, jamais como indivíduo. Eu ainda gosto muito de experimentar diferentes linguagens e formatos, então não sei dizer se há um estilo próprio identificado em meus textos. Talvez a mistura de gêneros, o humor presente até fora de lugar, os personagens urbanos. Mas nada disso é único e, muito menos, original. De Machado a Kafka, passando por Calvino e Cortázar, o que não falta é influências. Ter contato com nacionais contemporâneos (não só pelos livros, mas em oficinas), como Marcelino Freire, Veronica Stigger, Ronaldo Bressane, Nelson de Oliveira, Paulo Scott, entre outros, também tem me ajudado a encontrar meu caminho na literatura.
Você poderia recomendar três livros aos seus leitores, destacando o que mais gosta em cada um deles?
Quem me conhece não aguenta mais me ouvir indicar Se um viajante numa noite de inverno, do Italo Calvino. É um livro que me marcou muito por explorar o narrador na segunda pessoa, o você, colocando o leitor na história exatamente como o “leitor” que lê aquele mesmo livro. Foi quando percebi que não havia limite para a escrita. No caminho inverso, recomendo a leitura de O velho e o mar por conseguir que eu me identificasse com um protagonista tão distante da minha realidade. A partir de uma história simples, Hemingway passa por temas universais, ainda que estivesse colocando no papel suas próprias transgressões e frustrações. Um autor contemporâneo que me fisgou recentemente é o Alejandro Zambra. Talvez por termos a mesma idade, tudo que li dele (Bonsai, Formas de Voltar para Casa, Múltipla escolha) eu gostaria de ter escrito. Indico o Meus Documentos, que me parece uma boa lição sobre “o que escrever quando não se sabe o que escrever”.