Alessio Esteves é gestor de projetos em UX, roteirista e escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Costumo escrever à noite ou aos fins de semana, então minha rotina matinal é banho, café, leitura de jornal, orações aos deuses que venero e ir ao trabalho.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Atualmente minha rotina anda bem corrida devido aos trabalhos (sim, no plural), então tenho me obrigado a escrever ao menos 200 palavras por dia dos projetos que estão rolando, mas nem sempre é possível. Não tenho grandes ritos, mas curto fazer um café e colocar uma música que tenha a ver com o que estou escrevendo. Quando estou na pilha, chego a escrever coisas no celular, usando o Evernote para guardar e acessar depois.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Costumava escrever mais em períodos concentrados (normalmente de madrugada), mas como estou envolvido em muitos projetos em diferentes fases de desenvolvimento, estou buscando mudar para o esquema de “um pouco todos os dias”. A meta diária atual, como disse acima, é de 200 palavras, mas a ideia é chegar em pelo menos 500 ainda este semestre.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo depende muito de cada projeto. Eu tenho um “banco de ideias” com várias coisas soltas, sinopses de histórias ou personagens. Então, quando surge algo mais concreto a ser feito, a primeira coisa que faço é correr para este banco e ver se nada ali serve.
Achando algo ou não, bolo a trama geral (onde ela começa e onde ela termina) e então parto para a pesquisa, que depende do quanto eu domino o assunto do projeto ou não. Posso me aprofundar em livros, quadrinhos, reportagens, séries, filmes, documentários… Quando acredito que tenho insumos o suficiente, vou para o roteiro. E claro que este “suficiente” muda de projeto para projeto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O medo de não corresponder à expectativas ou a ansiedade de trabalhar em projetos longos, apesar de existirem, não são travas atualmente para mim. Meus maiores inimigos tem sido mesmo a procrastinação e o cansaço. Trabalho com gestão de projetos e tenho um sebo de quadrinhos, isso muitas vezes acaba exigindo muito de mim e, à noite, quando chego em casa, tenho vontade de fazer “vários nadas” ou distrair a mente jogando videogame. Aí projetos e acumulam e acabo tendo que varar uma noite ou duas para resolver as coisas. E é esta confusão toda que gera a procrastinação (além de amar redes sociais…).
Vamos combinar que isso não é muito produtivo e saudável, certo? Então tenho tentado dividir estar grandes jornadas em pequenas ações diárias e assim ter um ritmo de produção mais constante e organizado. Será que chego lá?
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Como meu critério de entrega quase sempre é o que está mais próximo de estourar o prazo, acabo eu mesmo revisando algo no máximo duas vezes. Mas tenho alguns leitores-beta (roteiristas e não-roteiristas) de confiança que sempre me ajudam. E, quando o projeto é independente, contrato um revisor e um leitor crítico.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tecnologia ajuda muito a guardar as coisas para acessar depois e na fase de edição. A trama inicial de qualquer projeto faço tanto à mão quanto no computador ou celular. Se estou em casa, é no computador mesmo. A mesma coisa com a divisão da trama no número de páginas da HQ.
Antes de partir pro roteiro em si, gosto de desenhar a divisão de quadros por página para ter uma noção melhor de narrativa visual e isso é na mão mesmo. Por fim, o roteiro é no computador. Escrevo no Word ou Evernote e depois compartilho no Google Drive com leitores-beta, revisores e editores.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Marcelo Cassaro disse não lembro aonde que as ideias estão sempre ao nosso redor e só precisamos estar na sintonia certa para captá-las e colocá-las no papel. Sim, porque se a ideia captada não for materializada, ela vai embora em busca de alguém que o faça, como explica muito bem Elizabeth Gilbert no livro “Grande magia: a vida criativa sem medo”.
E o que faço para estar nesta sintonia? Anoto sonhos, leio de tudo (até coisas que não gosto), ouço música, assisto filmes e séries, conheço pessoas e… bem, ouço conversas alheias no transporte público e locais públicos, assim como também dou aquela pescoçada em celulares de pessoas que parecem estar em conversas muito interessantes. Minha noiva diz que minha curiosidade beira a falta de educação, mas é mais forte que eu.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que algumas técnicas que aprendi ao longo de cursos e contato com outros autores me permitiram usar melhor coisas que fazia por instinto, meio sem querer. Também aprendi a otimizar alguns processos que me ajudaram a produzir mais rápido e melhor.
Não sei se vale a pena voltar ao meu eu do passado para dizer algo, pois tudo o que passei de bom e ruim em relação a isso tudo foi importante para eu chegar aonde estou. Mas, se tivesse mesmo que dizer algo, seria “Não pare de escrever”.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tudo o que posso falar sobre este projeto que será um thriller-político, mas é algo que quero estruturar bem antes de começar a mexer, então está em banho-maria por enquanto.
Eu gostaria muito de ler uma HQ com a pegada dos Invisíveis, mas rolando aqui no Brasil. Tivemos algumas tentativas, mas foram mais pastiches do trabalho do Morrison do que algo que realmente refletisse a guerra entre o Colégio Invisível e a Igreja Exterior por aqui.