Alessandra Bononi é poeta e historiadora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho nenhum ritual especial pela manhã. Me levanto por volta das sete horas, tomo meu café e logo em seguida começo a me dedicar as minhas pesquisas como historiadora. Sou recém formada em História pelo Centro Universitário Fundação Santo André, atualmente busco minha primeira experiência no mercado de trabalho e também estou voltada a preparação para um futuro mestrado em História Social na USP.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Acho importante começar esta resposta salientando que a vontade de fazer poesia surgiu na minha vida quando eu estava no sexto ano do Ensino Fundamental, sobretudo depois que li o livro “Domitila – Poema – Romance para a Marquesa de Santos”, de Álvaro Alves de Faria, que me inspirou a escrever sobre o envolvimento extraconjugal de sete anos entre o Imperador D. Pedro I e a paulista Domitila de Castro Canto e Melo, e mais adiante sobre a Família Imperial do Brasil como um todo.
Quanto a minha hora de maior inspiração e criatividade, posso dizer que é de madrugada. Acho que isso acontece, pois, a noite é um momento de maior silêncio, onde consigo refletir com mais calma sobre aquilo que me toca de alguma maneira especifica, seja provocando encantamento, indignação, ou qualquer outro tipo de sentimento.
Quanto a rituais de preparação para a escrita, digo que não existe nada de especial. Por vezes sinto que desperto no meio da noite com uma criação já passando na cabeça e tendo a nítida sensação de que preciso colocar algo para fora.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não. Eu não costumo escrever poemas todos os dias, mas apenas nos momentos em que me sinto inspirada. A elaboração da poesia para mim não é algo planejado, a necessidade de escrever nasce a partir do momento em que tomo contato com qualquer coisa que me chame atenção de algum modo.
Quanto as metas de escrita diária, para os poemas elas não existem. Porém, para as minhas pesquisas e projetos enquanto historiadora são mais bem definidas e cuidadosamente planejadas.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Considero meu processo de escrita bastante livre, visto que ele é alimentado pelas mais diversas temáticas. No caso do “Miscelaneos”, livro composto por 39 poemas de minha autoria, ilustrado pela professora de artes e artista plástica Vitória Oliva Perricci e publicado no ano passado pela Editora Matarazzo, o leitor encontra abordagens sobre o Primeiro Reinado brasileiro, pontos da política atual, mulheres que me inspiram, referências musicais relevantes para mim e outros devaneios. Ele é uma mistura de tudo o que me compõe e é justamente daí que deriva o título “Miscelaneos”.
Produzir notas previamente é algo que não faz parte dos meus hábitos enquanto poetisa. Conforme já mencionei anteriormente, os poemas vêm para mim meio ao sabor do vento e da inspiração e muito dificilmente enfrento dificuldades para iniciar uma composição poética.
Da mesma forma, não há uma pesquisa muito meticulosa por trás de minhas criações poéticas. Para mim, elas são puramente o reflexo de minha visão de mundo, de minha posição a respeito de diversos assuntos e do meu lugar enquanto mulher, deficiente física portadora de Paralisia Cerebral leve e historiadora atenta em relação a questões da sociedade que a cerca.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como já afirmei anteriormente, as travas na escrita surgem raramente para mim. Porém, quando aparecem, procuro não pensar muito, não dar muita importância a elas e acho que o melhor é sempre deixar a inspiração fluir naturalmente.
Quanto a procrastinação, penso que o melhor remédio para ela é o senso de responsabilidade e a capacidade de focar naquilo que se almeja realizar. Por outro lado, não deixo que o medo de não corresponder as expectativas dos meus leitores me afete demasiadamente, pois sei que a crítica faz parte do processo de amadurecimento de escritores e poetas, que se expõem por meio das palavras e se constroem dia a dia.
Por último, no tocante a ansiedade para a realização de projetos longos, ela é para mim bastante grande. Espero um dia fazer sucesso não só como poetisa, mas também e principalmente como autora de livros acadêmicos na área de História. Para lidar com a referida ansiedade, procuro não deixar de acreditar nos meus sonhos e manter sempre viva dentro de mim a convicção de que cada pequeno passo que dou agora é fundamental para a construção de um futuro promissor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Faço somente uma revisão em meus poemas, a qual é sempre mais voltada para o acréscimo ou retirada de determinadas pontuações. Costumo compartilhar minhas criações sempre com a minha mãe, Eliana Leone, que me incentiva muito a seguir produzindo e dividindo meus resultados com os leitores.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha relação com a tecnologia é bastante tranquila e intensa. A internet é uma ferramenta de suma importância para a divulgação do “Miscelaneos”, que tem se pulverizado e atingido um maior número de pessoas devido as publicações produzidas por mim e publicadas no perfil @livromisceleneos, no Instagram. Além disso, o livro em formato e – book se encontra disponível para compra na Amazon.
Inclusive, aproveito a oportunidade e peço aos leitores desta matéria que prestigiem e sigam nosso perfil! Lá é possível saber mais a respeito do conteúdo do livro e encomendar seu exemplar físico.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Basicamente, minhas ideias são fruto daquilo que vivencio em meu cotidiano e para me inspirar eu faço coisas que gosto, como ouvir música clássica (sobretudo a soprano paraense Carmen Monarcha) e ler bons livros (trabalhos de História, coletâneas poéticas, entre outros). Além disso, também adoro ir a museus e exposições de arte e pretendo voltar a frequentá – los assim que a Covid permitir.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Considero que com o passar dos anos minha forma de escrita se tornou mais madura e eu ganhei um olhar crítico mais apurado em relação a tudo o que vejo. Quanto a segunda pergunta, ela é bastante desafiadora e eu nunca parei para refletir sobre isso. Mas acho que diria o seguinte para mim mesma: “garota, continue escrevendo. Você não sabe quantas boas surpresas te aguardam no futuro”. Digo isso pois, ter a oportunidade de publicar o livro foi para mim um grande presente e uma grata surpresa.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Puxa, esse é um questionamento que também nunca fiz a mim mesma, mas tentarei responder. Talvez um romance histórico ambientado no Brasil do século XIX pois, ainda não tive contato com muitos livros desse tipo. É como diz o ditado: o futuro a Deus pertence…