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Como escreve Aidil Araujo Lima

21 de janeiro de 2019 by José Nunes

Aidil Araujo Lima é escritora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Tenho uma rotina matinal. Sair para o quintal, fechar os olhos e sentir a vida se renovando. Sorrir com o sol ou a chuva, as plantas. E, danço.

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

Escrevo á noite. Durante o dia raramente em fortes intuições.

Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

Não trabalho com metas. Escrever para mim não é trabalho, é diversão, é libertação, necessário, como respirar.  Escrevo desde menina. Diante dos encantos, desencantos da vida, a forma que encontrei de fugir de mim mesma e ser outra; outras. Lendo ou escrevendo eu me refugio e tenho prazer.

Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

As notas são assombros diante das perplexidades da vida, de um bom livro, uma fala.  Ultimamente tenho anotado fatos que me causam certo estado de contemplação. São palavras, gestos que me tiram da zona de conforto, me transformam num novo ser absorto. Pois a memória tem falhado, prefiro escrever, uma cena uma frase que se desdobra em contos.

Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Não existem travas na minha escrita. Não escrevo para agradar o outro, para vender livro. Escrevo para me livrar de mim mesma; daquilo que ninguém quer ouvir. Preciso desabafar, uma página em branco é minha grande confidente. Pode ser um gesto, uma palavra, uma frase dita ou não, é a chave para abrir um texto, ele vem chegando, a imaginação se revela, memórias afetivas, alegrias, mágoas minhas, dos outros. A intuição se faz presente, a divagação de cenas observadas quando estou distraída da realidade. É muito mágico, não consigo parar. Ás vezes o sono me toma em meio a um relato, aquela história de vou dar uma descansada e retomo; já aconteceu de sonhar com a narrativa e como deveria se desenrolar. Acordo com tudo pronto na ponta do dedo. Ainda não desenvolvi projetos longos. Escrevo contos. Muito embora tenha pensado num romance.

Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Reviso muitas vezes, até que não consigo mais, ele já não me pertence. Sei que se for ficar mexendo mudarei totalmente a criação.

Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

No computador, de uma vez. Como disse antes são relatos curtos. Geralmente deixo para dia seguinte a revisão de texto. Pois estarei liberta e louca por um descanso.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?

Ouço muito, até aquilo que não me é contado. Sinto demais, as dores de outras mulheres, suas alegrias, suas ânsias de vida.  Seus silenciamentos, os olhares, os comportamentos.  Tanta coisa eu sinto demais, queria que tudo fosse diferente, eu preciso dizer isso de alguma forma. A beleza, a crueldade, o abandono, humilhações, coragem. Leio muito, de tudo, dos clássicos a bula de remédio. Tem contos que leio milhares de vezes, me encantam tanto. São obras de arte, que não me canso de admirar. Leio e leio com olhar arrebatado.

O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

Ao longo dos anos, comecei a observar a técnica, a sonoridade do texto. Isso foi quando comecei a divulgar meu trabalho através de concurso. Vi que não era só importante uma boa história, a forma, a sonoridade, as palavras e a energia que transmite. O que faz um texto belo, daqueles que arrebatam, pode ser uma simples história contada de maneira impactante.   Aprendi a ler o que escrevi em voz alta, mudei muitas palavras a partir desse processo, pois o que soa bem escrito pode não ser tão agradável aos ouvidos.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Tenho uma ideia, isso vai demandar mais tempo. A história de uma mulher que me encantou. Quero escrever um romance, contando essa história de resistência, luta. Incrível como as narrativas chegam até mim. Estou ouvindo pessoas, gravando, cada vez mais seduzida, arrebatada.

Filed Under: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@nunescnt) é doutorando em direito na Universidade de Brasília.

Entrevistados

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O como eu escrevo revela os bastidores do processo criativo de escritores e pesquisadores.